( )n.º2

Um punhado de mim põe-se diante do, hoje sujo, mar do arpoador sentindo o gosto bom de quase ser Ipanema ou, logo após, Leblon ou, muito mais remoto, Guamá.

O sol é manso de se ver: diverso de verão; e brinca de pingar o céu aqui e ali (mas nunca em toda parte com o mesmo vigor), como o menino que, cobrindo os olhos com as mãos, sonha ter, simplesmente, sumido do mundo de modo que nenhuma criatura viva ou morta consiga-lhe encontrar, mas que, porém, só pra assegurar-se disso, vez ou outra dá uma olhadela por entre os dedos.

A mulher ao meu lado, de inexistir, distrai-se no profundo que há no ato de passar o batom cor-da-tarde. Leve, levanta-se. Sai. E sai porque, em verdade, nunca estivera ali. Passos trôpegos areia à fora.

O punhado de mim posto em meditação, sonhava outros eus (por onde andam?) e, sem que isso deixasse de ser fato, parte da parte que ele é comoveu-se profundamente com a ida daquela mulher que lhe levou de vez o sol, anoitecendo qualquer possibilidade de, enfim, ser-me.

Harley Dolzane
Enviado por Harley Dolzane em 17/03/2007
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