Lembranças que não se apagam
Os meus olhos se elevam no mês de setembro,
Nas matas do meu cocal nas veias dos bandeirantes,
Que por ali passaram desbravando o meu sertão,
No meio do Riacho dos Cocos e o Rio Itapecuru,
É o melhor destino onde sempre aqui estou.
Caminho por um pedaço estreito de chão duro,
Que um dia tão distante ali, eu fui sozinho,
Pescar umas piabas nas beiradas do riacho para jantar,
Nas cercanias do Matadouro Velho pelo Riacho São José,
Adentrando nas matas do Ouro Verde, um belo lugar.
Era o ano de 1972, recheado de enigmas,
Com algumas piabas no cambo,
Coloquei os peixes nas galhas de um pau pombo,
E sair embrenhando na mata para desvendar aquele verde,
Com altas copas onde cantava o bem-te-vi.
Passei na trilha da antiga Estrada de Caxias a Aldeias Altas,
E com muito cansaço, eu retornei para pegar os peixes,
A chuvinha era abundante naquele local distante,
O medo era uma constante no matagal,
Surpresa eu tive ao ver o urubu rei,
Levando o meu único cambo de peixes.
Observei a fera devorando as piabas no alto da palmeira,
Sem demora, retirei do bolso o saquinho plástico.
Onde continha o pitoco de lápis e um papel de embrulho de pão,
E comecei a escrever nos respingos da grande sombra da árvore,
O meu maior poema sobre esta inusitada obra.
Várias vezes meditei o que eu poderia dizer,
Mas, não contei naqueles versos o que sucedeu,
Que o urubu rei havia comido os meus peixes,
Única alimentação que poderia servir no meu jantar,
Pois, ao sair de casa não havia qualquer provisão.
Arroz com cuxá e guisado de mamão,
Eu sempre balbuciava que estava abusado,
E a minha mãe sempre me dizia:
-A gente só bota banca na mesa quando tem condições,
-O quitandeiro já disse que só vende quando o teu pai pagar a conta,
Calado, eu nada mais dizia.
Por isso, eu fui sem ninguém saber ao Riacho dos Cocos.
Distante há quatro léguas de Caxias,
Pedalando numa bicicleta monareta,
Cuja corrente caía a cada instante.
Foi naquela paragem onde escrevi o maior poema,
Aos doze anos de idade. Eu ainda era gago,
Refletindo na situação de ser apenas um poeta,
Já que o local onde eu escrevia as poesias,
No alto do pé de manga abelha, havia uma proibição.
Naquele apogeu escondido entre as folhas verdes,
Havia uma lata de querosene da marca jacaré,
Com mais de mil poemas, cartas e contos,
Cujo local eu não subia, mas, oferecia sentinela todos os dias.
Mesmo com pirraça em todos os tempos,
Eu nunca deixei de escrever,
A minha maior ambição era possuir uma esferográfica,
E um caderno sem arame,
E no dia que eu pedir a caneta emprestada ao amigo Marcelo,
Escrevi em todas as folhas de bananeiras do meu quintal,
As doces poesias que o tempo não apagou da mente.
A caneta acabou a tinta de tanto escrever,
No colégio e na vizinhança,
Eu solicitava as canetas não utilizadas da Fename,
Abrindo e repondo a tinta encontrada,
E a velha caneta voltava a escrever na minha alegria.
Em 2002, eu compro uma propriedade rural,
No ano seguinte, vistoriando o marcos da área,
Eu piso no mesmo lugar onde construir o maior poema,
E relembro que ali um dia eu pranteei,
Escrevendo um grande poema,
Com as minhas lágrimas caindo no pedaço de papel.
Na sequência, eu soube que um pedaço de terra,
Marca a passagem dos bandeirantes,
E a ilustrada passagem de Gonçalves Dias,
E de toda a sua família,
Dos índios caxienses Guanarés.
Assim ficou patenteado o urubru rei,
Como uma divindade Condor amigo,
E por vários anos enterrado no chão,
No fundo do meu quintal,
Enrolado em pedaços de panos e plásticos,
Numa lata de leite ninho sob a minha guarda.
Hoje, sábado, 13 de setembro de 2003,
Relembro bem aqui, um pouco de mim,
Neste abençoado local que hoje é verso,
E nunca imaginei que um dia fosse meu.
Eis o poema daquela época abaixo no link.
UMA DIVINDADE EM CAXIAS - CONDOR AMIGO (1972)
http://www.shallkytton.com/visualizar.php?idt=101150
Os meus olhos se elevam no mês de setembro,
Nas matas do meu cocal nas veias dos bandeirantes,
Que por ali passaram desbravando o meu sertão,
No meio do Riacho dos Cocos e o Rio Itapecuru,
É o melhor destino onde sempre aqui estou.
Caminho por um pedaço estreito de chão duro,
Que um dia tão distante ali, eu fui sozinho,
Pescar umas piabas nas beiradas do riacho para jantar,
Nas cercanias do Matadouro Velho pelo Riacho São José,
Adentrando nas matas do Ouro Verde, um belo lugar.
Era o ano de 1972, recheado de enigmas,
Com algumas piabas no cambo,
Coloquei os peixes nas galhas de um pau pombo,
E sair embrenhando na mata para desvendar aquele verde,
Com altas copas onde cantava o bem-te-vi.
Passei na trilha da antiga Estrada de Caxias a Aldeias Altas,
E com muito cansaço, eu retornei para pegar os peixes,
A chuvinha era abundante naquele local distante,
O medo era uma constante no matagal,
Surpresa eu tive ao ver o urubu rei,
Levando o meu único cambo de peixes.
Observei a fera devorando as piabas no alto da palmeira,
Sem demora, retirei do bolso o saquinho plástico.
Onde continha o pitoco de lápis e um papel de embrulho de pão,
E comecei a escrever nos respingos da grande sombra da árvore,
O meu maior poema sobre esta inusitada obra.
Várias vezes meditei o que eu poderia dizer,
Mas, não contei naqueles versos o que sucedeu,
Que o urubu rei havia comido os meus peixes,
Única alimentação que poderia servir no meu jantar,
Pois, ao sair de casa não havia qualquer provisão.
Arroz com cuxá e guisado de mamão,
Eu sempre balbuciava que estava abusado,
E a minha mãe sempre me dizia:
-A gente só bota banca na mesa quando tem condições,
-O quitandeiro já disse que só vende quando o teu pai pagar a conta,
Calado, eu nada mais dizia.
Por isso, eu fui sem ninguém saber ao Riacho dos Cocos.
Distante há quatro léguas de Caxias,
Pedalando numa bicicleta monareta,
Cuja corrente caía a cada instante.
Foi naquela paragem onde escrevi o maior poema,
Aos doze anos de idade. Eu ainda era gago,
Refletindo na situação de ser apenas um poeta,
Já que o local onde eu escrevia as poesias,
No alto do pé de manga abelha, havia uma proibição.
Naquele apogeu escondido entre as folhas verdes,
Havia uma lata de querosene da marca jacaré,
Com mais de mil poemas, cartas e contos,
Cujo local eu não subia, mas, oferecia sentinela todos os dias.
Mesmo com pirraça em todos os tempos,
Eu nunca deixei de escrever,
A minha maior ambição era possuir uma esferográfica,
E um caderno sem arame,
E no dia que eu pedir a caneta emprestada ao amigo Marcelo,
Escrevi em todas as folhas de bananeiras do meu quintal,
As doces poesias que o tempo não apagou da mente.
A caneta acabou a tinta de tanto escrever,
No colégio e na vizinhança,
Eu solicitava as canetas não utilizadas da Fename,
Abrindo e repondo a tinta encontrada,
E a velha caneta voltava a escrever na minha alegria.
Em 2002, eu compro uma propriedade rural,
No ano seguinte, vistoriando o marcos da área,
Eu piso no mesmo lugar onde construir o maior poema,
E relembro que ali um dia eu pranteei,
Escrevendo um grande poema,
Com as minhas lágrimas caindo no pedaço de papel.
Na sequência, eu soube que um pedaço de terra,
Marca a passagem dos bandeirantes,
E a ilustrada passagem de Gonçalves Dias,
E de toda a sua família,
Dos índios caxienses Guanarés.
Assim ficou patenteado o urubru rei,
Como uma divindade Condor amigo,
E por vários anos enterrado no chão,
No fundo do meu quintal,
Enrolado em pedaços de panos e plásticos,
Numa lata de leite ninho sob a minha guarda.
Hoje, sábado, 13 de setembro de 2003,
Relembro bem aqui, um pouco de mim,
Neste abençoado local que hoje é verso,
E nunca imaginei que um dia fosse meu.
Eis o poema daquela época abaixo no link.
UMA DIVINDADE EM CAXIAS - CONDOR AMIGO (1972)
http://www.shallkytton.com/visualizar.php?idt=101150