AOS QUE MORREM





Um dia a gente se põe a pensar: quantas pessoas que conheci já morreram? A resposta geralmente nos surpreende. Quanto mais o tempo passa, mais pessoas se enterram em nossa memória. No início, quando não compreendia a morte, assustava-me com assombrações. A assombração foi inventada para impor o medo do desconhecido. Afinal, há muita pertinência no desconhecido; ninguém até hoje pode afirmar como é o suposto “outro lado”.

Desde cedo pensava que uma pessoa só morre definitivamente quando não há mais lembranças dela. Não sei de onde veio essa ideia, mas me parece que muitos já a tiveram. Vemos muitas comemorações de centenários, batizados de ruas, de edifícios, etc, em homenagem aos que morreram. Muita gente boa e ruim está eternizada em concretos e livros, mas a essência de um ser somente tem quem conheceu pessoalmente alguém que já se foi.

Os vídeos, os livros, as imagens nunca nos mostram a verdadeira essência de alguém que morreu. Só os amigos e entes queridos guardam um pouco da alma de quem está eternamente na lembrança. Morrer é inevitável! Aprendemos isso muito cedo. E passamos a vida toda sem entender a razão das coisas serem assim. A religião ameniza as dúvidas e medos a respeito ou faz ter muito medo sobre o assunto. Cada cabeça inventa o seu céu favorito ou escolhe o céu indicado por alguém que diz saber o caminho.

Todos nós temos um cemitério na cabeça. Basta estar vivo e ter consciência para isso. O engraçado é que o medo de assombração passa também com o tempo. Quanto mais a gente entende a vida, mais entendemos a morte. A razão me diz que quem morre é excluído da terra. Nada resta mais! Nada! Mas a emoção me diz que existe a lembrança. Esta faz a gente pensar que uma pessoa jamais se acaba e nem é excluída da terra.

O universo da mente cabe muita gente. De dia, olho para o céu e vejo o azul, sol e nuvens. De noite, olho para o céu e vejo a lua, escuridão e estrelas. Na minha mente, vejo inúmeras lembranças e até imagino o que há além do que vejo no céu. Às vezes penso que a lembrança seja o paraíso tão falado ou o inferno ou o purgatório. Afinal de contas, o que a gente faz na terra e com as pessoas vão determinar quais lembranças deixaremos nos cemitérios da cabeça.




Autor: Diego Magalhães