DEGUSTAÇÃO

Degustar-me não é fácil, amigo,

Há em mim, quase sempre, o sabor enjoado, passado dos limites,

de fruta verde que se morde lentamente.

Sob a língua, o amargor destrambelha os sentidos.

Por vezes, ardo.

Os rios do mundo despejados podem aliviar por segundos

e volto a queimar.

Se, porém, juntar a fome e a paciência,

banhar tudo com ternuras,

se souber misturar os olhos,

trocar os pés pelas mãos,

molhar a palavra em minha boca

e me desnortear

posso ser pêssego maduro

e doçura embriagando o mundo

que havia em torno de nós.

Saramar
Enviado por Saramar em 20/03/2007
Código do texto: T419641