Passaros Estupidos e Burros
'' Não a uma unica mulher que nos sirva ''
Cristo estava atras de nos , imenso , magistral , tentando abraçar a cidade toda com seus braços de concreto que nunca se fecham .Ao seus pes , tres vagabundos , tres almas despejadas nesse mundo buscando compreender o porque e nada mais , buscando respostas em latas de cerveja , cigarros , tendo o nascer do sol amarelado como plano de fundo , as luzes da cidade como vagalumes , os passaros voando a baixo de nos , em bandos , rumando deus sabe onde seguindo seus instintos , são felizes assim , pois tudo que precisam fazer é sobreviver e procriar e morrer . Não a tristesa em seus olhos avermelhados ou palidos , mas tambem não a outra coisa, não tem confusão ou qualquer embaraço do homem louco que caminha pelo mundo em busca de fama , dinheiro , guerras , sofrimento , dor , felicidade , tanto tanto tanto para no final acabar trancado numa caixa de madeira , apodrecer , servir de alimento , dar vida , sustento .
'' Passaros burros ''
Ouvi um dos dois bebados desiludidos sentados um de cada lado dizer . Pensei que os passaros não poderiam ser muito espertos , mas nos tres ali tambem não .Poderiamos estar transando com mulheres consufas como a gente , solteiras , viuvas de mentes ferradas de whisky e maconha, olhos secos , contornados com carvão , caminhando com o par de sandalias nas mãos , alito podre de licor de leite , unhas roidas , perfume doce e enjoativo , brilho de mais no rosto , brilho de menos na alma que lhe escapa pelo cu como uma cobra de duas cabeças , se agarrando ao intestino , enrolada a perna dificultando o caminhar sofrido numa noite sem estrelas regada a sorrisos falsos com sabor de beijo mecanico . Um dos dois bebados agarrou uma pedra e lançou de onde estavamos , uns bons metros acima do nivel da rua onde o enorme cristo de concreto jas pregado de braços abertos , tentando acertar um dos passaros , mas a pedra passou longe , longe demais para que qualquer um dos seis que voavam por ali se assustassem , a pedra não chegou nem a acertar a rua , quicou na grama verde umida por causa do sereno noturno e ficou ali , imovel , estupida , so mais uma pedra , não ouro nem diamente , uma pedra qualquer feia como bosta no pasto cuspida e escarrada uma lasca de outra coisa maior e maior .Uma manha tão deprimente e nojenta que até mesmo o sol resolveu se esconder sob nuvens cinzas pesadas e sujas e uma brisa fria lambeu minha orelha trazendo sons do outro lado do mundo diluidos em chuva e remoldados nas montanhas nevadas do Alaska .
'' Odeio esses passaros estupidos e burros ''
Martelou um bebado , o outro assentiu com a cabeça . Bebi o ultimo gole morno da lata . Deitei e dormi .
20/03/2013
7h17m