"Um cachorro esplendido"
--"Esplêndido....." Para qualquer coisa eu diria: "Esplendido!" Essa seria uma boa forma de começar um texto. Não importa o que isso possa parecer, sempre quis usar a palavra. "Esplêndido" -- Que coisa! E o que dizer de espantoso, excepcional, grandioso, onipotente, fantástico.
Pronto! decidi. Gosto dessas palavras e agora devo usa-las para dialogo com um cachorro. -- Mas, como poderei, o sentido é tão amplo e ao mesmo tempo parece tão vago. Como poderei juntar a forma para dar conta do conteúdo ou do conceito.
--Pera!
Mas o que eu quero mesmo num papo com um cachorro?
Se for numa comunicação imediata, do tipo (senta e vai), imagino que seja possível. Mas se for um papo longo, daqueles racionais, cheio de predicados lógico-abstratos, do tipo abstratos contidos naqueles provas empíricas, dos sistemas dedutivos, das canções que se repetem, e daqueles enunciados particulares que teimam a dizer que são lógicos.
Indução? Nem sei o que isso parece.
Já emoção? --Ahh, essa sei.
Diz respeito a experiencia do esplendido, vivido ou observado.
Amado, tanto tocado pelo racional que diz, "eu penso."
Mas sem chateações, o fato é, como se comunicar.
Digo, se comunicar nesse âmbito, com o cachorro. Sem delongas. Quero pensar que deve ser:
--Au Au! é o começo. Daí eu sigo
--Veja cachorro, estou sentindo algo.
Imagino que ele ficaria confuso. Então insistirei.
--Cachorro, eu estou sentindo algo!
Vendo-o mas confuso ainda, parto para definir o ponto.
O ponto que quero dizer, começo a explicá-lo, nada mais é do que esplendido e predico, grandioso, fantástico, sensacional.
Imagino que há essa altura, chocado com seu gesto incompreensivo, talvez quisesse dizer: --Não me interessa! Posso comer e gozar como todo ser vivo. --E você? O que mais quer além do natural e observável?
Nesse tempo eu diria: "--Que cachorro esplêndido!" , estou espantado.
Já para o tempo, diria: --Que vento; --Que frio!
Vou pegar meu agasalho, aconchegar minha razão, dormir na minha certeza, e acertar a sorte sendo contraditório a lei.
Quero ser a noção, o ruído, a voz, a palavra, a proposição, a dominante, a lei, a fé e tudo que quiser.