Um dedinho de prosa.
 

Já era noite, e a lua espalhava seus raios prateados sobre a varanda da casa.  O senhor João, sentado à beira do alpendre, conversava com seu compadre, o seu Emanuel, enquanto dava umas boas baforadas em seu cigarro de palha. A prosa ia animada. Eles falavam do plantio do milho e do feijão, enquanto o seu Emanuel bebia uma pinga com jurubeba.
 
Lá na cozinha, ao lado do fogão a lenha, dona Clara, mulher do seu João, fofocava com sua comadre, a dona Antônia, mulher do seu Emanuel.
 
- Dona Clara dizia: lembra da Lia, filha da dona Josefina, mulher do Prachedes da lavanderia: Pois é comadre, ela se enfiou lá pras bandas do riacho, e você sabe como é!
- É comadre, disse dona Antônia, foi uma falação daquelas. Mas comadre, e a filha da Gertrudes, a Soninha, você viu só o que ela aprontou? Foi trabalhar na cidade grande e quando voltou, nossa que loucura! Ela estava prenha. Era uma barrigada de fazer dó. Dona Gertrudes ficou quase maluca.
- É mesmo comadre Antônia, disse dona Clara. Então a menina está prenha, você quer dizer que ela está grávida. Uma situação dessa deixa qualquer mãe, louca da vida.
Não gosto nem de pensar, mas fazer o quê, o jeito é comentar mesmo, né!
 
Enquanto isso lá na varanda, ao clarão da lua os dois compadres continuavam a prosa, falando de tudo e de todos um pouco. . .Isso é, pra variar.
 
- Seu João dizia para o compadre Emanuel: você viu a cara daquele político, seu Chifronildo, quando sua mulher, a dona Florzinha, (diga-se de passagem, uma potranca arriada) de chamegos com seu rival, outro político da mesma laia, seu Zé do Jegue.
- É compadre João, disse seu Emanuel: naquele mato tem coelho, ou melhor, tem coelha. Mas o Chifronildo disfarça muito bem. Saiu de mansinho como se nada tivesse visto.
- Bem compadre João, a hora já vai alta. A prosa ta muito boa, mas temos que ir. Vamos aproveita o clarão da lua e por os pés no caminho, daqui até em casa é um bom pedaço de chão. Vou me despedir da comadre Clara, só assim aquelas duas fecham suas matracas.
- É verdade, disse o seu João. Nunca vi duas mulheres que gostam tanto de uma fofoca. Se deixar, elas varam a noite, entram pela madrugada e vão até o dia amanhecer.
 
Depois de se despedirem, seu Emanuel e dona Antônia foram embora. Então seu João disse à sua mulher: Clara, o compadre Emanuel gosta mesmo de se envolver com a vida alheia, nunca vi ninguém assim! Dona Clara não deixou por menos:
 
- Eu fiquei abismada, é nossa comadre, mas a Antônia fala demais, parece que sua língua não cabe dentro da boca.
- É mulher, disse o seu João, vamos dormir que amanhã temos que levantar bem cedo. Clara, tô aqui pensando com meus botões, o dia que o compadre e a comadre forem confessar, num sei não! Vai ser muito difícil para o padre escolher a penitência para aqueles dois.         

 
Wilcaro Pastor
Enviado por Wilcaro Pastor em 01/04/2013
Código do texto: T4218312
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