MULHER VIOLETA

 
Me perdi a olhar violetas, flores delicadas que cultivo em vasinhos na janela da cozinha. Pequeninas e exuberantes. Que frágeis e sutis encontram caminho por entre trincheiras verde escuro de folhas de veludo, folhas coração. Remoto instinto de preservação?!

Violetas um dia selvagens, se espalhavam livres pelo chão. Violetas, hoje bem tratadas e cultivadas em estufas por proteção. Se erguem frágeis acima das folhas, despreocupadas em busca de luz. Pendendo em caules tão fraquinhos, sobre as folhas que as acolhem: tapete macio, delicada prisão.

Eu perdida nesse amor tão meu. Que me acolhe e "i-mobiliza". Olhos fixos em violetas, devaneios; Brisa leve da minha mão distraída que leve embala um leque chinês. Dedos frágeis das mãos que foram livres.

Hoje, por trás da janela do "amor-conforto", se esforçam por sustentar-se outra vez. "Mulher-violeta" que deseja "re-encontrar" o seu caminho de cor ação... Entre as folhas fortes de "veludo-coração" do homem amado, do filho tão desejado, da casa perfumada com lavanda, comida gostosa e café fresquinho.

Deseja resgatar seu poder e voar. Voar sem perder a raiz, e ao lar retornar. Perdido meu olhar deixa escapar uma lágrima, que devagar escorre e abre caminho sobre a renda esculpida em madeira sândalo; cheiro bom... memória e nostalgia de liberdade e autonomia. Desce a lágrima e toca minha pele, me trazendo de volta. É hora de preparar o jantar.

Vila Velha(02/02/2005)
Zeni Bannitz
Enviado por Zeni Bannitz em 22/03/2007
Reeditado em 06/07/2014
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