A mulher da minha rua
O Vale de uma tristeza,
É o céu de plena agonia,
Sente dentro e sai regozijos,
Na escuderia, leva a mulher,
Sorrindo contra o vento,
Não sabe o que é amargura,
Abana o vestido de chitinha,
Todo colorido, ainda sorrir,
Enganando os passarinhos,
E o pequeno menino na janela,
Que avista a pobre mulher,
Traçando os leves passos,
Entre as pedras do caminho.
Por aqui, ela vai passando na minha ruazinha,
Descendo com alguns cruzeiros na mão,
Antes de fechar o mercado na segunda-feira,
Na hora do meio-dia que chora,
Tardia,
Naquela agonia,
Apressa os passos ao velho mercado,
Na banca de madeira do menor preço,
Para trazer um cambinho de peixes,
Ou a boa cabeça de porco,
Comer com a farinha de puba,
Na hora do minguado almoço.
Lá se vem aquela mulher da luta,
Guerreira de uma paz só, sozinha,
Que lava roupa todos os dias,
E passa na minha ruazinha,
Desfilando num único vestido,
Com a face marcada de dores.
Da minha janela verde,
Eu vejo a mesma chitinha em seu corpo,
A roupa de todos os dias, bem limpinho,
Balançando um gingado no corpo,
Com a trouxa de roupa na cabeça,
Ela lava a roupa e passa todos os dias,
Na água que Deus lhe deu,
Do grande Rio Itapecuru,
Desce apressada e cantando,
Para um trocado receber,
Lá, na casa do seu Senhor.
Numa tardezinha,
Aguardei sentado na calçada,
A face risonha por ali apontava,
No mesmo vestido de chitinha,
Ela vai passando na minha ruazinha,
Com a trouxa de roupa na cabeça,
Já de tardezinha,
Eu indaguei:
-A senhora quer vinagreira?
Ela parou, virou-se, e me perguntou:
-Quanto é meu filho o molho de vinagreira?
-Não é nada não, dona. Eu quero lhe dar, sem nada cobrar.
A senhora leva as vinagreiras e os meus versos que fiz sem poder falar,
Quando a senhora voltar, eu vou esperar nesse mesmo lugar.
Sem pressa na passagem das nuvens do céu,
Recolhi no meu quintal as folhas de vinagreira,
Envolvidas num pedaço de papel,
Entreguei nas mãos da senhora,
Ela sorriu e disse:
-Você é um garoto bom. Você fez versos para mim? Pena que eu não sei ler.
Vou guardar como uma lembrança. Que Deus te abençoe, menino bonito!
Escrito em 1969
Vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=FuGcwPbWUjA
O Vale de uma tristeza,
É o céu de plena agonia,
Sente dentro e sai regozijos,
Na escuderia, leva a mulher,
Sorrindo contra o vento,
Não sabe o que é amargura,
Abana o vestido de chitinha,
Todo colorido, ainda sorrir,
Enganando os passarinhos,
E o pequeno menino na janela,
Que avista a pobre mulher,
Traçando os leves passos,
Entre as pedras do caminho.
Por aqui, ela vai passando na minha ruazinha,
Descendo com alguns cruzeiros na mão,
Antes de fechar o mercado na segunda-feira,
Na hora do meio-dia que chora,
Tardia,
Naquela agonia,
Apressa os passos ao velho mercado,
Na banca de madeira do menor preço,
Para trazer um cambinho de peixes,
Ou a boa cabeça de porco,
Comer com a farinha de puba,
Na hora do minguado almoço.
Lá se vem aquela mulher da luta,
Guerreira de uma paz só, sozinha,
Que lava roupa todos os dias,
E passa na minha ruazinha,
Desfilando num único vestido,
Com a face marcada de dores.
Da minha janela verde,
Eu vejo a mesma chitinha em seu corpo,
A roupa de todos os dias, bem limpinho,
Balançando um gingado no corpo,
Com a trouxa de roupa na cabeça,
Ela lava a roupa e passa todos os dias,
Na água que Deus lhe deu,
Do grande Rio Itapecuru,
Desce apressada e cantando,
Para um trocado receber,
Lá, na casa do seu Senhor.
Numa tardezinha,
Aguardei sentado na calçada,
A face risonha por ali apontava,
No mesmo vestido de chitinha,
Ela vai passando na minha ruazinha,
Com a trouxa de roupa na cabeça,
Já de tardezinha,
Eu indaguei:
-A senhora quer vinagreira?
Ela parou, virou-se, e me perguntou:
-Quanto é meu filho o molho de vinagreira?
-Não é nada não, dona. Eu quero lhe dar, sem nada cobrar.
A senhora leva as vinagreiras e os meus versos que fiz sem poder falar,
Quando a senhora voltar, eu vou esperar nesse mesmo lugar.
Sem pressa na passagem das nuvens do céu,
Recolhi no meu quintal as folhas de vinagreira,
Envolvidas num pedaço de papel,
Entreguei nas mãos da senhora,
Ela sorriu e disse:
-Você é um garoto bom. Você fez versos para mim? Pena que eu não sei ler.
Vou guardar como uma lembrança. Que Deus te abençoe, menino bonito!
Escrito em 1969
Vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=FuGcwPbWUjA