Adágio de Bach

Depois da fome incompleta a inimitável sede após um adágio triste subitamente interrompido e frio, lentíssimo e depois cada fome se estreita sem perder os passos calmos de ventos luminosos heroicamente desordenados e após as portas carregar os feixes sangrentos em mãos leves de infortúnio e calmaria tempestuosa. Aparece a fera e a sede gotejando farpas no canto esquerdo da flauta firme e momentânea como parar diante do susto de se ter percebido que é frio mesmo o que se sente ao beijar-te os pés subitamente frígidos sem alma nem pernas. Todavia se ouvisse uma toccata de Bach como agora ouço ao decompor em signos infames de uma Ária inaudível simplesmente com o espírito recurvado ante esse Minueto fulminante seco árduo e imponderado como o solstício no inverno feito também desse canto de ópera pura liberada num único bocejo. Mas sofreria também em ver tigres azuis mansamente e como antes e depois da fome cairia de joelhos porque assim o violino toca o solo arcaico mudo e idôneo. Cortar ao meio a carne dura e evanescente em fluídos esgarçados malevolamente numéricos e a cada nota beber vinho negro contra a febre vespertina triste cisne negro vestido de luto lírico possesso de sete vidas nuas lâminas de ácido imanente puro como o último acorde de Deus.

Silvano Gregorio
Enviado por Silvano Gregorio em 12/04/2013
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