CONFESSO-ME POETA APAIXONADA


  Pois é, sou poeta. Se ser poeta é amar sem limites, sem fronteiras, sem amarras, é claro que sou poeta.
  Se ser poeta é lamber o amanhecer depois de uma noite delirante, sou poeta.
  Se esquecer os limites da idade, umtrapassar barreiras, sou poeta.
  Se o chorar e o rir se fundem, se confundem no mesmo instante...
  Acredite, sinais de poesia estão apontando.
  Tocar o rosto do amado e no escuro continuar vendo-o mais forte ainda...
  Cuidado as provas estão se solidificando.
  Imagine então desconhecer horas, perder as estribeiras. Claro que virei poeta.
  Sentir cheiros estranhos, antes odiados, agora aceitáveis,
  Esquecer datas, e se perder de sí, se sentir plena, completa, saciada, é claro que virei poeta.
  Lamber suor com cheiro de amor é sintoma nítido de paixão.
  Concluo e confesso-me apaixonada.



                Para Dorival, com ternura.