OLIMPIA - 1ª PARTE

Início a minha historia, desde menina,
Quanta humildade no centro do lar,
Quando minha mãe era viva,
Havia mais esperança no seio familiar.

Reafirmo, Olímpia é o meu nome,
Somam três os meus irmãos,
Antonio, Maria e João,
Ninguém ainda sabia ler, pois éramos crianças.

Nossa mãe faleceu,
Eu estava com oito anos,
Antonio é o mais velho,
Maria completará sete, e,
João é o mais novo.

Ainda bem criança, comecei a entender,
O que mais me envolvia, á falta de afeto,
Que saudades de minha mãe!
Há muitos... Que não a vejo de perto.

Estamos no ano de,
Mil novecentos e dezessete,
Papai ainda muito moço,
Foi logo se enamorando.

Descendente de portugueses,
Corpo atlético e queimado do sol,
Trabalhador rural e pobre,
Ético, bom e calmo sem igual.
Acredito que mamãe sabia
Que em muito breve ela partiria,
Sou assim justificava ás suas palavras,
Que ainda muito criança, ela me passava.

Lembro-me de teus ensinamentos,
Nos quais sempre vou me espelhar,
Não fiquei endurecida mamãe!
Quando me ensinou a amar.

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Pois eu creio nos teus pedidos,
Quando eu crescer, não desviarei,
Do estatuto e de seu testemunho,
Lembrando de ti, sempre me alegrarei.

Direcione meu pai Antonio que ficou!
Meus três irmãos adolescentes!
Antonio Gomes, Maria e João,
E essa sua filha Olímpia, Fruto dessa geração.

Foi agradável a nossa vivencia unida,
Há! Mamãe, Deus ó levou!
E a onde estiver eu digo,
Tudo foi bom, enquanto durou!

Seus filhos são indefesos,
O que o futuro nós espera?
Se nos não conhecemos ainda,
Os pássaros, os homens e as feras.

Olho para frente e percebo,
Vejo ao meu redor, começo a entender,
A grande falta de afeto,
Que já começou a aparecer.

Estamos chegando ao fim,
Do ano Mil Novecentos e Dezoito,
Papai com trinta e oito anos,
Apesar de muito pobre, respeitoso e humano.

Conheceu a mulata Minervina,
Filha de patrão com escrava,
Moça firme e singela,
Ele descobriu que a amava.

Ela era dona de terras, Grandes florestas e capoeiras,
Foram-lhes doadas pelo pai, as quais eram de direitos,
Requeridas por afloramento,
Junto á Corte na Sesmaria.



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No ano de Mil Oitocentos e Trinta e Sete,
Muitos e muitos hectares de terras ele requereu,
Desde o alto, de Conceição, São Bento e Santo Antonio do Muqui
Por causa disso, muitos índios perderam a vida por aqui.

O romance prossegue,
Papai apaixonado transforma num garotão,
Cada qual enamorado, motivado pelo noivado,
Ficamos em solidão, com fome de amor e pão.

Ao casal nubente,
Antonio e Minervina
Receba dos convidados, e,
Os empregados presentes.

Todo o nosso afeto,
Nossa gratidão,
Passamos as vossas mãos,
Esse belo cavalo alazão.

No meu íntimo de filha,
Fadiga e sofrimento,
Perdemos o amor de pai,
Por causa do casamento.

Após os festejos,
Saudações e beijos,
Que destino teríamos?
Qual seria nosso cortejo?

Parece que já se cumpria,
Aquilo que eu imaginava,
Pois começou a acontecer,
Tudo que eu não sonhava.
Ouvi a voz da empregada,
Que nos chamou a refeição,
Numa gamela de madeira,
Serviram-nos arroz, angu e feijão.

Sentados em torno daquele vasilhame,
De oitenta centímetros de diâmetros,
Com os bumbuns rentes ao chão,
Onde comíamos com as mãos.

Contando isso hoje,
Não sei se choro ou acho graça,
Quando encontrávamos carne,
Brigávamos pela disputa do pedaço.

Assim crescíamos,
Sem felicidades,
Mais oito anos depois,
Lutei contra minha ingenuidade.

Agora já tínhamos,
Mais três irmãos,
Perdemos totalmente o afeto,
Congelou nossos corações.

Manoel, Alcebíades e Araci,
Filhos, legítimos, bem tratados e corados,
Na redondeza de Santo Antonio do Muqui,
Adolescentes como eles, eu nunca vi.

Nosso pai mudou muito, principalmente no econômico,
Possuía bons cavalos, tropas de burros,
Carros de bois e boiadas
Áreas imensas de terras, todas cercadas.

Fabrica de queijos, farinha e rapadura,
Bastantes porcos, ovelhas, e, vacas leiteiras,
Granja, muitos ovos e galinhas,
Empregados braçais, era o que ele mais tinha.

Era até difícil de contar,
Ainda mais na época do plantio,
Era tanta gente a trabalhar,
No brejo, e o barro a tombar.

O verde mar do arrozal,
Plantado em mudas,
Em terras férteis e planas,
E nas chapadas e vales, o cafezal.


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Recebiam amigos, vindo da capital,
Rio de Janeiro, Guanabara,
Que vinham conhecer,
Seus belos animais.

João com treze anos,
Trabalhava junto dos, empregados,
Certa ocasião vindo da lavoura,
Estavam servindo aos visitantes,
Leite queimado,
Era muito delicioso!
Feito com cravo da índia e açúcar caramelado.

Como todo mundo repetia,
O leite veio a faltar,
João todo emburrado,
Eu gosto, e leite eu quero tomar.

A nossa madrasta ficou uma fera,
Sentiu-se envergonhada com o ocorrido,
Dirigiu-se logo ao capataz pedindo.
Para a tulha, o menino João levar.

Quando tudo se acalmou,
Pediu também ao empregado,
Que dirigisse para a ordenha
E mais leite fosse tirado.

Após a volta do curral,
Um latão de leite foi tirado,
Entregando-o a madrasta, ela,
Ordenou ao enteado
Que todo leite fosse por ele tomado.

Coitado do meu irmão,
Ficou uma semana passando mal,
E ainda com as marcas no corpo,
Do laço atado, que deixou sinal.

Hoje eu tenho dezessete anos,
Analfabeta, e já cansada...
Ouvi quando minha madrasta,
Perguntou a empregada:
Meus filhos ainda não vieram da escola?
Meu pai que acabava de chegar,
Vindo da cidade de São Pedro,
Escutou a mulher indagar.

Pela primeira vez,
Percebi dele ato em nossa favor:
- “As outras crianças deveriam também estudar”,
Desceu do belo cavalo, e,
Na estaca ó amarrou,
Minervina foi a seu encontro, ofereceu os lábios,
E eles se beijaram.

Em seguida ela argumentou,
Ora querido, João já é um homem,
Olímpia passa e lava muito bem,
Eu só confio nela para as minhas roupas engomar,
Vou arranjar-lhe um bom partido,
Ela precisa se casar,
Quanto ao Antonio, um rapazola,
Quer nos enche de prazeres,
Bom e educado e a fazenda necessita de seus afazeres.

Papai ficou olhando para a esposa,
Não disse uma só palavra,
Ela toda faceira e cheia de graça,
Aperta-lhe e lhe abraça.

Na manhã seguinte,
Percebi João muito pensativo
Estava agitado,
Disse-me todo desengonçado:
- Mana não agüento mais viver aqui!
Já decidi, irei fugir.

Lembra-te sempre de mim,
Não te lembres de meus desamores,
Desejo-te muitas bênçãos dos céus,
Irei lutar para ter valor,
Não pretendo ser professor ou Doutor,
Por isso vou buscar outros ares, irei conhecer uma cidade.
Eu só quero um pouco de paz e dignidade.
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