Diálogos (de merda) de artistas (de merda)

-- Arte é uma merda...

-- É mesmo. E nós chafurdamos na merda como os porcos chafurdam na lama.

-- Porque você não inclui essas obras na sua exposição?

-- Não. Não vou fazer isso.

-- Por que não?

-- Perde o sentido.

-- Sentido... rá... O último fiapo de sentido que se podia extrair da arte foi arrancado pelo primeiro poeta que teve a sensibilidade de ver que isso tudo era mais bonito sem sentido.

-- É. Poesia é uma merda.

-- Tudo é uma merda para você. Você só tem merda na cabeça?

-- Não. Tenho uma exposição na cabeça. E quero que ela tenha um direcionamento.

-- Deixe isso com o curador.

-- Eu tenho que dar o tom da exposição para o curador.

-- Então decrete que a abrangência da exposição é maior do que você esperava e agora vai incluir as outras obras.

-- Não posso fazer isso.

-- Por que não?

-- Porque a exposição vai ficar uma merda.

-- Sabe de uma coisa?

-- O que?

-- A merda maior é ter que fazer exposição. As pessoas não podiam vir aos nossos ateliês e comprar ali mesmo?

-- Seria bom.

-- Seria maravilhoso. Eliminaria o marchand, o curador, a galeria, o centro cultural, tudo, enfim que encarece as coisas.

-- Isso. Aproveitamos e eliminamos o artista também. Assim não há obras e não há merda nenhuma também.

-- Não seja exagerado.

-- Arte é uma merda...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 09/05/2013
Código do texto: T4281996
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