Olhos na Janela

No asfalto frio e úmido daquele bairro tranquilo, andava pela rua cinza uma menina. Com o seu guarda- chuva xadrez, cantarolava músicas de uma típica tarde ensolarada, seus passinhos moviam-se como se estivessem em uma praia paradisíaca e seus dedos com os grãos de areia, sentiam-se confortáveis.

As pessoas ao redor passavam e a olhavam como se vissem uma coruja em plano dia e uma borboleta colorida voando livremente à noite, e se perguntavam o que havia acontecido o que ela viu que eles não haviam visto ainda. Talvez, já tenham sim visto, ou melhor, sentido o que a menina sentiu. A paixão.

O vestido flutuava naquela tarde fria como se estivesse em uma nuvem e eu da minha humilde janela, a vi passar.

As moveis da minha casa, velhos e com o cheiro de madeira, pela primeira vez em anos fizeram sentido, possuíram uma razão para estar ali.

E cada gesto que ela fazia, era uma caricia que os moveis; míseros objetos sentiam. O relógio se desligava de propósito, para fazer com que nossos beijos durassem a eternidade. Nossos jogos, brincadeiras havia sempre dois vencedores que bravamente desistiam para que pudessem logo se amar.

Foi então, que em um dia de chuva eu a vi chorar e a cada lágrima que caia era uma cor que se perdia, era a solidão que batia na minha porta e eu estupidamente a deixei entrar. A cada grito que dávamos as paredes pareciam assustadas, tampavam seus ouvidos de mentira. O relógio voltou a funcionar. A eternidade se converteu em segundos e de segundos. Nada.

Daquela mesma janela a vi partir com suas malas, a rua que antes já fora clara e quente, hoje é úmida e fria. Passa uma menina que fez lembrar do erro de somente olhar pela janela.

Lorraine D
Enviado por Lorraine D em 23/05/2013
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