SEM NADA

Chega a casa no casaco ausente de cor

e pousa os olhos no sofá,

emite um suspiro de fome

e liga a tv para jantar as notícias aos pedaços.

Os talheres cravam o coração ausente

e deliciam o paladar da distância

que aromatiza a refeição.

Bebe o sumo das causas perdidas

na filosofia guardada na mala dos negócios

que se encosta todos os dias ao móvel de pó

que permanece na entrada da realidade.

Pede um café de carinho à voz inócua

que habita o pires da solidão.

Chega-lhe às mãos uma chávena de grãos diluídos

e transformados em deleite fugaz,

sem açúcar de amor e sem colher por companhia

bebe de um trago antes que arrefeça

nas mãos o sabor do tempo.

Levanta-se e entra no quarto do canto da sala

e atravessa o corredor da meditação da pele

na ocorrência dos olhos nas mãos.

Leva as mãos à cama enquanto o corpo se deita

no chão suspenso de sexo sentindo o frio da mármore

que tem o relógio de corda partida na cómoda da decoração.

Adormece despido de fantasia e sonha a realidade em episódios,

sem amor, sem carinho, sem nada…

Mónica Correia
Enviado por Mónica Correia em 31/03/2007
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