A CANÇÃO DA FELICIDADE


O homem é meu amado, e eu sou a sua amada. Sinto falta dele, e ele me adora. Mas, ai, tenho uma rival que disputa seu amor e me atormenta. Chama-se Matéria. Segue-nos aonde quer que vamos e nos desune e separa.

Procuro meu amado sob as árvores das campinas e à margem dos lagos, e não o encontro, porque a Matéria o seduziu e o levou à cidade, à vida social e ao vício e à desventura.

Procuro-o nos institutos do saber e nos templos da sabedoria; mas não o encontro, porque a Matéria, aquela que veste o pó da terra, o conduziu aos antros do egoísmo onde foi açambarcado.

Procuro-o nos campos do contentamento, e não o encontro, porque minha rival o mantém preso nas grutas da ganância e da gula.

Chamo-o de madrugada quando o Oriente sorri, mas ele não me ouve, porque o sono do egoísmo pesa nas suas pálpebras.

Brinco com ele à noite, quando a quietude se espalha e as flores dormem, mas ele me despreza, porque suas preocupações com o dia seguinte sobrecarregam sua mente.

Meu amado me ama. Procura-me nos seus afazeres, mas ele só me encontrará nos afazeres de Deus. Anseia por possuir-me no palácio da glória, que ele edificou sobre os crânios dos humildes, e entre seus cofres cheios de prata e de ouro. E eu só aceito unir-me a ele na casa da simplicidade, que os deuses construíram à margem do rio dos sentimentos.

Meu amado aprendeu de minha rival, a Matéria, os gritos e o barulho; mas eu lhe ensinarei a verter uma lágrima de compaixão dos olhos de sua alma, e a exalar um suspiro de contentamento.

Meu amado me pertence, e eu lhe pertenço.


Minhas Homenagens.


http://youtu.be/JEzdkrMdegA

Khalil Gibran
Enviado por escribalice em 05/07/2013
Reeditado em 05/07/2013
Código do texto: T4373791
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