O Banho

Foi difícil ter passado o dia todo sob o edredom fofinho e quentinho, travesseiros macios e cheirosos para recostar e descansar as costas. Notebook sobre o colo, café quentinho na cama, ora escrevendo algo que mantenho guardado a chaves, ora jogando algo on-line para descansar a mente, conversando com amigos, dormindo um pouquinho, enfim, relaxando...

Mas, o mais difícil mesmo, foi a hora de criar coragem. A coragem de ir para o banho e seguir todo aquele ritual de todos os dias e, que em tempos de verão seria motivo de alegria e excitação.

Porém, fantasmas começaram a rondaram todo o meu quarto. Torturavam a minha mente ao sussurrarem aos meus ouvidos o trágico momento de me despir, e ao arrancar-me as meias, o mármore gelado cuspiria sem piedade alguma, agulhas finíssimas que perfurariam os meus pés tão facilmente como rompem o tecido nas mãos do costureiro.

Baforadas de ventos vindo do Alasca urrariam feito a um animal selvagem enquanto cortariam a minha carne como a uma lâmina de uma gilete nas mãos de um carniceiro.

Tensa, trêmula e ainda não decidida, agarreio edredom trazendo-o até o pescoço, então, arrepiei até o último dos meus pelos ao imaginar neste momento de alucinação, não os pingos de águas quentes e envolventes que acariciariam a minha pele com ternura, que massageariam os meus cabelos, mas sim, gigantescas, afiadas e abrilhantadas estalactites brotando de cada orifício do chuveiro na velocidade da luz prontas para finalizar a tragédia forçando-me a descer até o chão molhado, gelado, e quando não mais houvesse para aonde ir, espremida, me forçariam a escorrer por ralo abaixo, no banho dos horrores.

Marta Rodriguez
Enviado por Marta Rodriguez em 27/07/2013
Código do texto: T4406547
Classificação de conteúdo: seguro