Anjo Caído
 
O anjo caído caminhava na direção exata das trilhas que não levavam a lugar algum.
Pleno de beleza e cego de crença, seguia seu caminho sem a percepção de quem era.
Às vezes, açoitava o vento com palavras vazias.
Outras vezes, marcava a si mesmo com o ferro em brasa dos erros escolhidos.
Os caminhos dos desertos escaldante tinham mistério e também sedução.
Ele, ofuscado pela verdade que lhe fora imposta mas não escolhida, acreditava que seguia na companhia dos mortais por não ter opção.
Eu observava de longe (e de cima) os passos tortuosos que ele criava.
Repleta de angustia, às vezes flertava com a minha ira, em outras, apenas me recolhia.
O anjo recaído, construía a cada dia respostas mundanas para satisfazer desejos humanos.
No fundo, nem ele acreditava nos olhos que via no espelho.
Eu o esperei nas muitas esquinas da vida, nas curvas do tempo e nas palavras que jamais foram faladas.
Um dia os olhos de cinzas buscaram descanso.
Agonizante na negação do propósito para o qual fôra criado, o anjo se debatia.
Enfim veio a tempestade.
A fúria dos ventos e a roda da mudança.
As asas de orgulho então se curvaram sem muita alternativa.
E ele, profundo desconhecedor do sentido da própria vida se viu submisso não à sua vontade, mas a de Deus que se cansava com tanta teimosia.
O anjo, por fim, sucumbiu.
Nos braços da resignação achou alento.
Na compreensão, buscou refúgio.
Os seus olhos ainda são os mesmos.
A única diferença para quem ainda o encontra nos caminhos da vida é agora refletem a luz de uma alma antiga.
Ele ainda não sabe quem é e nem para o que veio.
Mas o tempo tem seus segredos e é sempre muito paciente.


 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 05/08/2013
Reeditado em 06/08/2013
Código do texto: T4420799
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