Se o acaso realmente existir, não quero ser apresentado a ele novamente. Pois em minha vida suas eternas passagens me causaram cicatrizes em que ainda hoje tento  disfarçar. Como feridas que não saram, dores que não cessam, olhares que não param. A vida tem sido bastante grata pra mim, tirando do meu caminho todas as ervas daninhas que nela foram postas. Quando se tem uma vida regada ao insucesso, qualquer mero apreço nela devotada é realmente um descanso no marasmo de sermos apenas humanos.

Eu abri minha alma, como sempre. Sou um ser humano entregue a qualquer humanidade que me invada por completo. Chorei todas as lágrimas colhidas em 29 invernos passados por mim. Há tempos que não vejo as flores da primavera e nem  mesmo a volúpia do verão frívolo das almas perdidas no acaso.  Quando nos damos demais aos outros, nosso peso fica levem, mas nossa alma bastante carregada.

Não sei para quem escrevo. Ou para o que escrevo. Sou apenas um canal diante de tudo que está em minha volta em digitar aquilo que me solta a alma, que me grita em um eco dilacerante. Sou alma lírica perdida em não reconhecida. Sou o sucesso trajado ao verbete de ser apenas uma poeta perdida nessa web desenfreada. 

O predicado, predicou em mim. Gerundiou minha vida como se singulariza um ser que ousa se tornar plural um dia. Criar situações, pessoas, acasos e traços poéticos, esse é o meu maior forte. Talvez seja isso que tenha conquistado tantos adeptos a inimizade nessa vida. Sempre quis ser o que nunca consegui ser. Sou uma veia pulsante em que o mero poeta se inspira. Aprendi ser caça e caçadora. Sou mais que escritora, sou humana diante de tudo aquilo que o mundo ouso me recogitar em minha face. 

Tomo decisões ao fervor do sangue quente. Onde as melhores ações são dadas no decorrer de um dia traçado ao mormaço de ser único. Reconstruir vidas, recosturar laços, rememorar vitorias. Quem ousa me desafiar diante de tudo que eu tenho exposto aqui, durante esses seguidos discursos do meu sentir? Ninguém será o suficiente para mim. Não nesta vida! Apenas na próxima. Já tenho um traço marcado na carne. Pertenço ao percurso mais complicado que um ser resolver seguir. Não se espelhem em mim. Apenas usem minhas derrotas como exemplos. O mundo não precisa de bons exemplos, mais de derrotas para se construir vitorias e sucesso.

Se nada é por acaso, o próprio acaso, cansou-se de mim. O abandonei, antes que fosse tarde.

Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 05/08/2013
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