R U Í N A S ...

Parecia que a casa, aparentemente robusta, iria permanecer de pé, por muito tempo ainda, mesmo sem quase mais nada para abrigar.

Mas a pintura descascou e não foi restaurada. O reboco, manta que protege e mantém as "aparências", era pobre de aglomerante e começou a soltar-se como pele lazarenta, rígida, que esfatia-se antes de despencar aos pedaços, e espatifar-se no chão.

E começou a aparecer a estrutura que, durante tanto tempo, deu sustentação àquele abrigo tão admirado pela "solidez". Ela é de aço especial, mas, nem por isso, resistiu à agressão do que vem de fora, potencializada, aos poucos, pela ação deletéria do tempo e pela tibieza da sua pobre manta. Nem o aço resiste a tanta agressão, se não for adequadamente protegido...!

Com trincos quebrados, as portas começaram a ranger, semi-abertas, numa inusitada posição de pouco caso com as suas funções de cuidar separando os espaços.

Renitentes manchas pipocaram em todas as paredes e interiores, convidadas pela umidade fria que entra, impune, pelas janelas sem travas de vidros trincados, ou quebrados.

Dois ventiladores de teto, sem manutenção, giram preguiçosamente, sem pressa nem vontade de esfriar a cabeça de ninguém.

Quatro cães estressados e barulhentos enxotam todos os que tentam se aproximar. Sujam e roem tudo num instinto selvagem de se anteciparem ao que os seus donos relutam em fazer: abreviar a existência do abrigo em ruínas que tenta proteger as duas almas em agonia, que sobraram.

É o início do fim, ou o fim, mesmo!
Todos correram para outros abrigos. Sozinhos, tristes e com as almas doentes, porque insistir em ficar?