Descrição da Morte

Caminhar um pouco, despertar da alienação que se funde ao próprio modo de conhecer as coisas, desatar os nós das fibras duras como raízes de camadas simples, o tempo estranho à maturação das letras, dos frutos e,em tudo, poder vivenciar o que não poderia ser evitado com a consciência imersa no vácuo. Olhando bem, como a morte é solidária conosco! Abre-se um portal e depois se fecha atrás de si, cortinas espessas, um calmo e lento coração insuflando, criando e insuflando, morrendo até bater com mais força que o próprio tempo de espera. Essa coisa fria como lábios de um anjo. Não. É frio como as gengivas de um cadáver sobre a mesa, dissecado. Tem-se a impressão de que se está no começo de tudo, que a participação será algo a ganhar de novo como um projeto de vida não humana nem terrena, mas um lado contra o outro, as coisas se desassociando , ferindo-se, cristalizando até atingir o tempo marcado pela beleza de não existir e de não se ver. Como antes, o agora desintegra-se, a morte com consciência escapa à nossa capacidade de parar e pertencer um pouco mais, de morrer até o fim sem que haja depois o recomeço silencioso que enobrece a alma até reconduzi-la pobre e serena como lhe foi entregue a um corpo sem vida e pior ainda: saber que não foi de olhos semicerrados nem com uma lágrima escorrendo, no último vazio.

Silvano Gregorio
Enviado por Silvano Gregorio em 27/08/2013
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