Como diz o poeta baiano

Ah meu coração desvairado, inquieto e quase desalmado. Quer amar tudo e a todos, tenho que contê-lo, vigiá-lo, pois vagabundo como é, se derrete pros olhares fortuitos das moças que lhe mostram sorrisos e suspiros. Esse coração de manteiga não pode ver uma injustiça que já quer convocar o resto de mim para começar uma guerra. Parece até que tem vontade própria, ou será uma rebelde e indisciplinada parte de mim que quer agir independente, sem perguntar-me se pode ou se deve. Ah coração, acalme-se, aquiete-se, contenha-se, digo-lhe todo dia, mas é em vão. De tão idiota que é, esse meu coração de manteiga quer amar um mundo, tenho que avisar-lhe que o mundo é imundo, mas ele não se importa, pois ele por natureza é um coração vagabundo, como diz a canção do poeta baiano.

Charles Silva