A jarra do meu silêncio


Espatifou-se em tuas mãos
com o vento
que soprou
mudando o destino
desaguando
vazando
dentro de mim
com o sinal da partida
desferida
doeu
feriu
abriu
e machucou
não sarou
a vida de quem
apenas te amou
e se entregou
nas quadras
de apenas um só coração.

Eu sei
eu pensei
compreendi
que o adeus é uma preterição
para quem fica
olhando o passado
erguido de tantos amores
beijos, abraços e risos
sem falar da tristeza
abandonada no meu peito
nas estreitas esperanças
eu vou meditar
subir ao apogeu daquele monte
que separa tu e eu
no silêncio do último adeus
é preciso audácia
para jogar a camisa no ombro
na camaradagem do próprio eu
sopesando
peregrinando
sigo sem o passado.

E vou andando sob os espinhos
sentindo a agonia
danificada aqui dentro
outrora martelando sem parar
não ensejo culpar
admito a realidade
da coluna temporal do sol
queimando o meu rosto
pra que culpar?
acusar
mentir
delatar
ofender
afrontar
se eu não tenho razão
nem um pedaço de pretexto
nem um cavaco de achaque
para adjudicar
na minha vil defesa em vão.

É fantasiosa aos teus amados renovos
subestimando
e me achincalhando com risos
eu sou apenas, o errado
o mais inconveniente
o censurável
o causador
o determinante
o categórico
dos últimos momentos
lembre-se?
quando havia sol
tu reclamavas do calor
chegava a chuva
tu queixavas do inverno
eu, eu apenas ficava calado
se houve frio e calor
tu, somente tu, condenavas o tempo
não abrias exceção.

Eu sei
e falei
eu pensei
já arrazoei
eu abarquei
que o adeus é um desprezo
às vezes, um grande respeito
ou uma grande alegria de quem vai
e não é empreitada simplificada
arriscada da única visão na guia certa
portanto, a vida é feita de quatro estações
e as quadras se alteram
na pluralidade de contrastes
da forma da felicidade ou emoções
dizer que aprendeu na vida a lição
é preciso acender a luz da certeza
e averiguar os freios das dúvidas
como faço nas minhas atribulações
assobiando com a brisa da harmonia.

Será a despedida as emoções colidentes?
não. São anseios felizes e infelizes
são dois espetos que não se cruzam
não se medem na saudade deprimida
da aspereza que maltrata a paz
é o sinal que sai na exoneração
de uma grande inclinação que se foi
viveu e não previu o desmantelo do amor.
contrariedades que a essência não revela
na cômoda vivência do ser
com vendavais no meu coração
entre as alegrias e tristezas
onde sou um guerreiro que não se abate
nem com as lágrimas caindo aos meus pés
ou com o pranto derramado da mãe lua
quando a jarra do silêncio atropela as horas
esvazia-se
despeja-se
na intranquilidade malsinada
não ver a amada na noite alada.

Tudo muda e se transforma
na equação trilateral da vida
e faz nascer a Divina Proporção
do meu meio em cada extremo
vira um cateto navegável de letras
porém, concentração é o galardão
e desejo perlustrar
delineando com os brotos no abstrato
puras efígies de um pentágono equilátero
na solução da locução amena
sem dissipar os cardinais do amparo
ou caractere da linha do verso incolor
amargo é amargor, sem rima não arrimo
desanda a fivela do provável e da fé
adverte e traça
jazendo à direita da vírgula,
pausando o curso
sem nunca ter ali, um compasso

E quem sabe?
renovando os rebentos do supino monte
não sou um vencedor
e nem derrotado do amor
quem sabe dominar uma alegria
não saberá quando há aflições
que chegam no cais para arrebentar
cegando, e, e neutralizando a era
é preciso audácia
para jogar a camisa no ombro
na camaradagem do próprio eu
analisando
dividindo
e soprando os limites
das tristezas com uma letra de alegria
tudo é belo e encantador no juízo mágico
norteando o abstrato ou abstruso da dor
um amador será sempre de uma flor
que vive na pirâmide dos cálculos

É
destituído de malícia
desse jeito
e noto os voos das borboletas
sem mapa interno, bússola ou régua
elas delimitam a longitude com o solo
assim como as luzes dos meus olhos
que perfuram alguma montanha de aço
implantando a lindeza de uma flor
que abraça a figura do adeus nos passos
e voam as borboletas, serenamente
para qualquer direção dos desejos
e com o olfato
sabem navegar o fadário final
pela estrada invisível do espaço
são capazes de chegarem e retornarem
com a mesma coloração, beleza e leveza
elas abordam para a nova estação
é uma gerência em que não há perdição.
sem me frustrar
desse modo
eu serei capaz de saber para onde ir
juntando os meus cacos na mente
construo invisivelmente
essa nova autoestrada de versos brancos
da cor do algodão e das nuvens cândidas
que as gemas dos leitores
irão por aqui atravessar
pisando nas letras num única visão
e sentirão que a consternação
não vence e nem esmaga o amor
há divinamente proteção
nesta multiplicidade do existir
e cada um de nós detém
o amor vai e o amor vem
sem caucionar ou implorar
as chaves da maior doação.



Música de fundo com  Josué o Sax romântico

 
ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 03/09/2013
Reeditado em 03/09/2013
Código do texto: T4465317
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