Chuva suicida

O dia é cinza, o frio é íntimo, e a chuva não para.

São incontáveis as gotas suicidas, baques secos contra telhados, janelas e meus planos. Toda essa água espatifada, corpos rolando sem saber pra onde.

E eu penso em cigarros, bebidas, no chocolate que só como na páscoa. Viro refém das promessas fáceis. Mas hoje eu sinto e não, não é isso.

E de longe vem a ideia (besta, eu sei) de ressuscitar um amor daquelas fotos amareladas, ou fazer uma paixão frankenstein dos pedacinhos românticos que perdi nos versos. Ressuscitar sentimentos e sentir que sou eu que vivo.

Mas, e seria isso?

Mais gotas dão o salto, pancadas rítmicas duma infelicidade tão fluida.

E toda essa água nesse cinza total escorrendo sem direção; por todos os lugares, para lugar algum,

sem saber nunca para onde está indo. Toda essa água desde as alturas também duvidando: e seria isso?