O medo e o amanhã.
Gritos ocultos e rostos do amanhã,
Imagens distorcidas de um futuro que ainda não chegou.
Formas longas e sem nenhum compromisso,
Rabiscadas com grafite num papel no chão.
Por hora era esta a visão:
O medo e o amanhã.
Caminhos distantes dispostos na planície,
Lado a lado uma estrada rumo à escuridão.
O desconhecido refletindo no horizonte,
Um raio cinza ofuscando contra o azul distante do céu estelar.
Então eu cantei,
Mesmo sem sentir o som de palavra alguma,
Eu cantei.
E a voz ecoava pelos cantos.
Na estrada de vidro,
Meus passos incertos.
A jornada de toda a minha vida
Refletida contra o chão,
Sem brilho e sem distinção.
Borboletas cortando o céu em duas fatias grandes:
O hoje e o agora,
Dispostos em duas porções.
Tudo obra de uma mente doente,
Num surto de criação.
Um rabisco do que eu já fui,
E a certeza do que eu jamais viria a ser.
O amanhã não chega ao anoitecer.
E fico pensando se há mais alegrias na morte,
Que a dor absurda da vida.
Mesmo depois de minhas orações,
A estrela que se apaga no horizonte.
O Chão trincando sob os pés.
E um cinza nebuloso roubando a cena,
Que corre acelerada em câmera lenta.
E a luz do céu toca a terra,
Que se desfaz em dois pedaços:
O presente e agora,
Dispostos em duas porções.
O sol ofusca a luz,
E é grande a aflição.
Assim como é grande a força que comprime o peito.
Assim como é grande a imensidão.
E sem ar o peito grita,
Gritos mudos na multidão.
Sem esperanças só me resta à lágrima,
Quem vem me socorrer na escuridão.