Linguagens

Linguagens




Mesmo que eu quisesse nomear, ou quem sabe responder, não saberia como. Está ao alcance da mão, ainda que sem classificação. Todavia, recusar dar um nome a isso consiste apenas em fingir que não existe.

Mas existe. É alguma coisa.

Mesmo não sabendo que nome dar.

Daí vem o tímido esboço de pensar num plano de linguagem.

Algo que em última análise deve captar com fidelidade um estado da mente, ou da alma, melhor dizendo.

Algo que em dado momento, somente em dado momento, remete a uma tristeza tão profunda que nem as lágrimas correm.

Mesmo assim, há esperança, decodificada numa entidade amorosa fluindo aqui para dentro e que conhece cada um de vocês pelo nome. Um nome que jamais poderá ser dito em português.

Talvez seja a língua que falta, eu não diria ausente, diria prestes a chegar.

Muito mais que o medo, há afeto aqui.

Se eu der algo, a outra parte dará algo, se eu falar algo, a outra parte também falará, se eu recusar, ouvirei um não. A isto se chama “agenda”, mas o território ideal está sendo reestruturado quase ao mesmo tempo em que ocorre um avanço para o território ideal.

E esta, como dizer, percepção, prenuncia uma delicada espécie de saber.

Algo muito sutil. Não pode sequer ser definido. Arrisco dizer que a mente não tem nenhum conceito sobre ele, nenhuma condição de relacioná-lo a nada.

E o mais curioso nesse instante é deixar-se levar por esse peculiar saber.

Nalgumas noites tenho dormido melhor. Até consigo ver o que há por trás do véu. Imagino uma vasta, harmônica discussão com pessoas as mais diversas e então surgem idéias, argumentos, energia e honestidade. Ao acordar, penso: é possível propagar isso, senão muito longe, pelo menos ao redor.


(Imagem: Fred Calleri)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 13/11/2013
Reeditado em 10/05/2021
Código do texto: T4569427
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.