Reflexões de um velho

Reflexões de um velho

Li uma reflexão interessante e importante.

Pensava, uma velha senhora, que as intenções da sua vida atual

e as esperanças de concretizá-las eram incompatíveis,

pois não haveria mais tempo para realizá-las.

É verdade, é verdade.

Chega um momento da vida que só restam memórias,

pois os sonhos precisam de tempo para se materializarem

em fatos reais, concretos.

A velhice, por definição, é um estado decadente e impotente da vida.

Resta esperar e lembrar

e isto, recordar, dependendo do passado que se viveu,

torna-se cada vez mais, a cada dia que custa a passar,

algo muito difícil de suportar. Minhas memórias são só minhas,

minha maneira de pensar, meus valores morais, minhas experiências de vida,

são minhas e de mais ninguém.

Externá-las, tentando um diálogo, é correr o risco

de quase certo não entendimento, pois são outros os tempos que passam .

O pior é o freqüente afastamento do interlocutor que não tem interesse de ouvir

o que ainda tenho para dizer.

Então fico cada vez mais calado, cultivando minhas preciosidades passadas,

olhando uma flor, uma árvore, o céu com ou sem nuvens,

com ou sem estrelas, enfim a paisagem que houver,

até a parede, com alguns quadros antigos e fotografias esmaecidas, satisfaz.

Lembro, ininterruptamente, o enigmático e universal lindo diálogo da

sonata Kreutzer, o piano e o violino,

sem ter, no entanto, ninguém mais para conversar...

O silencio, conscientemente organizado, passa a ser desejado,

e pode ser confortador, até suportável,

condição e momento apropriados para uma oração...

Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech novembro de 2013.