Chega Dezembro

Chega Dezembro








Chega dezembro e você não vem.

Agora, cada linha da jornada, da esquerda para direita, de cima para baixo, de dentro para fora, de fora para dentro, de ontem para hoje, somente isso expressa.

Chega dezembro e dezembros outros ruminam, espreitam, duvidam desse dezembro.

Outrora chovia e as luzes coloridas, os enfeites todos, os dezembros outros, velhos como eu, esperançosos como eu, acenam como um barco de luzes apagadas que passa rente a um barco iluminado.

Chega dezembro. O ano inteiro quantas estações não moveu, e quantos dias esqueceu, entre janeiro e novembro, dias outros, antigos, espargidos.

Há no ar algo de próprio.

Talvez seja a hora do desapego, parte dela quer ser lembrada, a outra parte despejada, novas ravinas virão mas em dezembro, o homem fará sua ceia alheio ao vento que passou pelos moinhos, quem dera junto aos que fizeram a última ceia e quem sabe unido aos que ainda irão fazê-la.

Chega dezembro e por que não chegaria, se meses mais sombrios já chegaram e passaram?

Dezembros outros nem se prestam a imprimir convite. A cerca do presente os separa. A vez do presente os enquadra. A voz do presente os afasta. Chega dezembro, avisos legíveis estão em toda parte, seu claro conteúdo decodifica que preposição alguma impedirá seu avanço, seu ar úmido ao entardecer, seu azul peculiar no instante da aurora.

Chega dezembro, incólume, olha para os lados e assenta-se em seu lugar. Haverão canções e cantigas no correr dos decanatos, muitos não ouvirão, muitos cantarão errado, muitos estão ainda muito longe de perceber.

Chega dezembro e você não vem, mas a alegria dentro de mim é tal que irá me ajudar a refletir neste espaço. E digo com toda modéstia que neste espaço o mestre se torna servo e a memória, antes carregada com extremo cansaço, agora brada: não queríamos que o urgente escondesse o que é importante! Difícil ver a diferença, pouco importa, alguém tem que tentar, pois nem toda evolução demanda uma revolução.

Doravante, na hora do pôr do sol percebe-se que tudo não foi assim tão
abaixo das expectativas. E que por toda a parte – inclusive aqui dentro - há uma nítida relação com a neutralidade recém cultivada.

Chega dezembro, você não vem, mas no brilho deste espaço há o letreiro outrora proferido por um servo que virou mestre:
O futuro é o passado curado.






 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 01/12/2013
Reeditado em 10/05/2021
Código do texto: T4594588
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