Sobre Bentinhos e Capitus

Cadê aquela alma indomável? Aqueles versos de cores e breu? Aquela busca incansável? Onde está o meu antigo eu? Ficou na infância. Nas prosas machadianas. Nos romances pueris de Bentinhos e Capitus. Minha alma ficou pra trás. Naquele tempo em que tudo era sonho e não projetos. Planos. Metas. Objetivos. Foco. O foco era brincar de drama, chorar agarrada ao travesseiro. E acordar sorrindo por inteiro. Hoje a busca pela felicidade me perturba. Me devora, assim, em noites de domingo. O que farei de produtivo amanhã? E assim os dias se vão. Sem muita púrpura. Sem muita pompa. O mundo me exige a eterna busca pelo que ainda não tenho. E se eu não quisesse mais? Parasse de desejar consumir? Vivesse para o canto dos pássaros, relendo Machado nas tardes de segunda-feira? Louca. Alienada. Desocupada. Infantil. Feliz foi Bentinho que apenas viveu. Ambição maior: suportar a dúvida (dádiva!) que a vida lhe deu.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 27/12/2013
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