Bilhetinho do quase-ok

Não sou budista, mas desde que me entendo por gente sigo este ensinamento de Budha, com relação ao perdão: se te ofendem uma vez, perdoa-se e esquece; duas, perdoa-se mas não se esquece; três, não se perdoa nem esquece.

Este foi o teu terceiro strike, mas mesmo assim, resolvi perdoar.

Perdoo, mas não esqueço.

Não me entendas mal, não estou tentando ser uma heroína aqui; ou mártir, ou nobre, ou superior a ninguém. Não teria culhões para tamanha pretensão.

Perceba, meu perdão não passa de mais um ato do meu enorme egoísmo: perdoo porque me machuca e preciso me livrar da tortura diária; me dóem os ossos, todos os dias, com a lembrança infortuna de teu golpe.

Nem parece que já se passou um ano. Um ano inteiro, com esta ferida gangrenada no meu peito, que preciso arrancar. Acredito que o perdão seja o caminho para costurá-la e curá-la de vez.

Repito, não sou budista.

E também não sou cristã, mas imagino que era isso que o nazareno queria dizer quando falava sobre perdão e amor ao próximo e ainda, ao seu inimigo: não permitir que os atos alheios apodreçam a alma.

Não falo de alma aqui de maneira transcedental (até porque, estou muito longe da ilimunação espiritual, de qualquer doutrina que seja), entenda. Mas de forma lírica, poética apenas; pois esta é a maneira que encontro para colocar para fora do meu lastimável ser todas as coisas que me incomodam, ou as coisas que as palavras coloquiais não conseguem alcançar.

Espero que teu peito tenha tanto sossego quanto o meu. E que a morte nos seja leve.