Ano Novo

Ano Novo

Noite terrível que marca, implacavelmente, o tempo passando.

Não é possível fingir não perceber – a noite e o tempo escoando:

são fogos de artifício, musicas estridentes, sorrisos e gargalhadas,

buzinas, roupas brancas que não permitem esquecer a data.

É obrigatório parecer feliz para não destoar, para não aborrecer,

com fisionomia triste, a “alegria” dos outros, que reclamarão e comentarão

o chato que não quer se alegrar.

Retirar-se para um canto sossegado é ressaltar a não presença, então

é preferível permanecer no meio da multidão bebendo, comendo ano após ano

as mesmas comidas, acreditando nas mesmas crendices idiotas,

conversando sobre nada mas rindo, convincentemente, o tempo todo.

Esperar a hora mágica da virada do ano e então

abraçar, beijar e dizer com emoção: “feliz ano novo...”,

mesmo para desconhecidos.

Não se atreva insinuar que tua vida é uma merda sem sentido,

uma sucessão de fracassos e desilusões, de esperas desesperadas,

de encontros em que os outros nunca vão.

Ninguém vai querer ouvir e vão te criticar e te rejeitar ainda mais.

Agora já falta pouco para poder voltar a dormir e a pensar na vida,

e também na morte, que não vem.

Tudo permanecerá igual. E lá vou eu, novamente, arrastar

a carcaça da minha pessoa,

em frangalhos e desesperançada - tão destoante das demais,

pelas folhas todas do calendário: semana a semana, mês a mês, dia a dia,

esperando uma novidade qualquer, (não há outra alternativa...),

que anime os próximos passos.

Quem sabe, novamente, experimentar uma oração que oriente e conforte. Quem sabe...

Eurico de Andrade Neves Borba, 73, Ana Rech, Ano Novo de 2013/2014