Prosa de Pedro Jeju e Zé Firmino

- José Firmino, acredite,

Não gosto de me gabar,

Mas, quando pego a viola,

Quando começo a cantar,

Saem das covas, defuntos,

Os peixes saem do mar.

Os anjos descem do céu,

E tudo vem me escutar.

-Eu não tenho inveja disso,

Sou valente, valentão.

Cangussu é meu cavalo,

Cascavel, meu cinturão.

Eu engulo brasa viva,

Pego curisco na mão,

Um empurrão do meu dedo,

Bota dez morros no chão.

-Isso tudo não é nada,

Não pode me amedrontar,

Paro o vento quando eu quero,

Já fiz o sol esfriar.

Bebo chumbo derretido,

Sem o chumbo me queimar,

Seguro as onças no mato,

Para o meu filho mamar.

-você pode ser valente,

Habilidoso não é.

Eu calço chinelo em cobra,

Ponho guizo em jacaré.

Asso manteiga no espeto,

Faço o tempo andar a ré.

Carrego água em peneira,

Dou beijos em busca-pé.

-Se eu for contar minhas artes,

Não acabo nunca mais.

Para apagar os incêndios,

Uso breu e aguarrás.

Eu ponho luneta em pulga,

E gravata em satanás.

Eu faço gelo com brasa,

Coisa que você não faz,

Faço o carro andar na frente,

Faço o boi andar atrás.

AUTOR: Viriato Correia.

Viriato Correia
Enviado por Valério Márcio em 26/04/2007
Reeditado em 14/03/2022
Código do texto: T464247
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