Entre a morte e a ressurreição.

Entre a morte e a ressurreição

Jorge Linhaça

Centenas ou, talvez, milhares de vezes, sinto-me como se estivesse literariamente morto.

Parece-me que os meus versos, cansados de serem por mil maltratados fugiram para algures.

Talvez não tenham sido os versos que fugiram, talvez estejam aprisionados em algum claustro ou masmorra dentre os recônditos de minha alma, não sei.

Vez por outra alguns desses pobres prisioneiros, engendrando algum ardil, logram escapar de sua clausura e conseguem atirar-se às águas turvas da minha poesia, agrupando-se e tomando quase a forma de um poema ou prosa poética.

São nesses parcos momentos, nessas fugas ocasionais, que por vezes chego a crer na ressurreição do poeta que moribunda em mim.

Em vão busco o auxílio das sete musas, mas meus apelos perdem-se no silêncio do tempo, abafados pelo clamor da tempestade que troveja em meu peito.

Tento reunir os maltrapilhos versos, filhos do moribundo estro em algo que faça sentido, em algo que se faça sentido em alguns poucos olhos ou ouvidos.

Talvez sejam as últimas palavras de um moribundo ou as primeiras falas de quem volta da morte. Quem sabe?