Amores perfeitos de um louva a deus

Havia uma lavoura que foi cultivada por um senhor muito rico. Dono de muitas fazendas, conquistador de vilas e cidades... Muito rico.

Porém, numa determinada data, deu uma praga de gafanhotos em suas lavouras e imediatamente esse senhor mandou chamar o "exterminador de pragas" que matou todos aqueles gafanhotos sujos, feios, parecidos com os troncos das árvores. Eram tão parecidos que se camuflaram e atacaram suas plantações como se fossem um câncer e quando esse senhor cuidou desta lavoura já era tarde. Teve que exterminar também aquela plantação, arrancar na raiz e plantar tudo de novo.

O prejuízo não foi grande pois além de ele ser muito rico, era sábio: tinha uma estufa onde plantava suas mudas mais preciosas.

Não se sabe por qual motivo esse senhor achou de cultivar no centro daquela estufa, um pé de amores perfeitos.

Havia uma ala somente para seus amores perfeitos, cercados de lírios e copos de leite, e rosas; tudo para que aqueles amores perfeitos não se sentissem sozinhos. Havia numa só muda - incrível isso - vários tipos de amores perfeitos: azuis, amarelos, róseos, vermelhos, lilases...

No entanto, um dia, quando esse agricultor adentrou a estufa e pegou as mudas para o plantio de suas novas árvores, notou a presença de um louva a deus, justo na muda de amores perfeitos.

Ele ficou feito um louco, pois amava seus amores perfeitos e chamou o "exterminador de pragas" de novo e eles ficaram observando durante dias.

Percebeu que o louva a deus alimentava-se de outras plantas e nada fazia com seus amores perfeitos, estava ali pelo perfume das rosas, pela sombra dos copos de leite e o conforto dos lírios.

Passaram-se meses e viram que se tratava de um macho, pois não se houvera reproduzido; não haviam novos "louva a deus".

Ele somente estava ali, porque os amores perfeitos lhe coloriam a existência, além disso tinha o perfume das rosas, a sombra dos copos de leite e o conforto dos lírios. O louva a deus, apenas abraçava os amores perfeitos nascidos de uma única muda, pois aquela muda era a sua companhia.

O senhor da lavoura plantou, colheu e todos os dias visitava sua estufa e o louva a deus passava suas mãozinhas nas pétalas dos amores perfeitos, como quem escreve poesias, ou como quem folheia um livro, depois, simplesmente, deitava-se ao pé de sua muda de amores perfeitos.

Não, não era uma praga, era um louva a deus e muitos amores perfeitos numa muda só.

Solange Guimarães

Aracati, 25/01/2014

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Solange Guimarães
Enviado por Solange Guimarães em 25/01/2014
Reeditado em 25/01/2014
Código do texto: T4663731
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