Morreu matado o encanto

Anjos sem asas se quebram no altar, sem falas e traquejos. Como poucas verdades que se calam, também eles emudecem longe da prece de cada dia.

Há um brilho sagaz atrás da interrogação, como verdade, ora desmedida ou fingida, e quem se importa?

As flores mal cheiram, os incensos brutalmente apagados dão conta de que a vida pode ser longa, mas não são as asas impúberes que vão entoar hinos na missa tântrica, nem há de haver cerimônias, uma vez rompidos os laços da inocência, verteu-se todo o liquido considerado bálsamo para as dores de amor; o mesmo amor expressado qual fosse gema bendita de uma vida, mas estupidamente falaz.

Olho ao redor e não encontro vestes nas paredes, nuas estão todas as inverdades, e nomes em vão são pronunciados...e o que antes era doce pecado, se reveste de vergonhosa hipocrisia.

Pobre vetusto, já não soa tua voz em melodia, só urros guturais anunciam tua pálida sensatez, será? Sensatez, terás? Quiçá não marche na linha oposta como pião fugindo da rainha?

Mesa posta e o brilho dos bordados delicadamente tecidos pelos dedos alvos outrora ainda meninos, refletem a candura dos silêncios e a doçura das falas sussurradas enquanto a noite ainda era uma criança inocente.

Morreu matado o encanto, morreu assassinado o pouco da lembrança, escorre o caldo agora gelado das poucas lavras, e sobre o altar onde a chama balança frágil, não se deixam mais pedidos, nem se entoam mais cânticos.

Passeia sobre a linha tênue da senil emoção, a desconfiança do reflexo imediato, nunca mais houve o tilintar das taças, e não mais se ouvirá o carrilhão marcar as doze badaladas. Escorre pelo canto da página a lágrima manchada de certeza dura.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 31/08/2005
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