Galhos secos
Eu gostava daquele pássaro aprisionado dentro de mim
sempre assustado como o refém de um bandido
Emaranhado pelas tolas ansiedades dos meus sentimentos
que não se davam conta que o amor era capaz de fenecer
Foi-me um tempo perdido com as mais cegas esperanças
que iludiam meus infindos desacertos que insistiram sempre
no afagar as carências dum pássaro incerto e confuso
pressionado a tornar a vida menos insuportável
Entretanto para o peso do seu fardo
foi mais que justo que reivindicasse espaços,
e as portas se abriram e me fez sentir na pele
os punhais do exílio se cravando lentamente
E assim por transversos discernimentos
e num canto de alforria voou o mais alto
e singrou os seus pequenos mares
sobrevoando céus cinzas e tão só seus
Sim, sei que tudo permanece num passado
como sei que os seus vôos jamais são calmos
pois há tempestades pelos lugares onde pouse
a incauta sensibilidade e a nostalgia do seu olhar
Olhar que não me nega verdades, e as conheço
pois quando transborda a sua saudade
vasa a necessidade de retornar para essa árvore
agora despedida das contradições e dos lamentos
E é deste jeito que a vida segue, a dele e a minha
numa realidade que não aponta dedos para culpas
e nem se exime de tristezas, pois tudo se perpetua
assim como sempre deverá ser perpetuado
Como as dores que doem tanto até que um dia deixam de doer
E este é o momento, instante de viver a dor na árvore que me tornei
de ser tronco sem raiz nem viço, madeira sem seiva ou que ressuscita
nos sabores dos ventos ou que revigora no eclodir das novas auroras
Hoje quem vê a árvore amanhecida na frieza do concreto
percebe nela a indiferença ante as intempéries do tempo
herança sacramentada nas sobras da secura da vida
e na melancolia inevitável da ressequidão dos galhos
Que se definham mansamente junto do corpo-tronco
até que a natureza na compaixão duma vigorosa lufada
absorva sua vida com a mesma ingênua simplicidade
que os ventos se desfazem dos seus pós