*Difícil fotografar o silêncio > Manoel de Barros...

“Difícil fotografar o silêncio... Entretanto tentei...
Eu conto:  Madrugada >< a minha aldeia estava morta...
Não se via ou ouvia um barulho... ninguém passava entre as casas...
Eu estava saindo de uma festa...
Eram quase quatro da manhã...
O silêncio ia pela rua carregando um bêbado...
Preparei minha máquina...
O silêncio era um carregador...
Estava carregando o bêbado...
Fotografei esse [carregador]...
Tive outras visões naquela madrugada...
Preparei minha máquina de novo...
Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado...
Fotografei o [perfume]...
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra...
Fotografei a [existência] dela...
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo...
Fotografei o [perdão]...
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa...
Fotografei o [sobre]...
Foi difícil fotografar o sobre...
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski > seu criador...
Fotografei a [nuvem de calça] e o [poeta]...
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva...
A foto saiu legal!!!”

* Foto > Tina...
 No silêncio de uma noite enluarada...

http://www.releituras.com/manoeldebarros_bio.asp
Tina Bruxinha e Manoel de Barros
Enviado por Tina Bruxinha em 25/02/2014
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