ENQUANTO O GIGANTE DORMIA

Atacavam um aumento de tarifa

marchando, indignados ativistas.

"São só vinte centavos",

na tevê disse um colunista.

A marcha ganhou passo grande.

De um gigante que andava adormecido.

Ganhou um brado retumbante,

há muito desaparecido.

Políticos organizavam uma festa

preocupados em ao povo dar o circo.

Do dinheiro, mal administrado, nada resta,

pois foi parar em bolsos indevidos.

Passaram a criar outras leis,

visando defender a si mesmos

de não ter que prestar contas nenhuma vez

do dinheiro de todo mês.

O povo, a quem deveriam ajudar,

só perde com o que o Congresso passa a votar.

Pensando o gigante silenciar,

puseram-se a projetos aprovar.

Em vez de investir em hospitais e escolas,

fizeram foi doenças inventar,

dar suporte para quem quiser cheirar cola

e ajuda de custo para quem quiser estuprar.

Tanto descaso, tanta bestialidade,

tanto circo e tanta futilidade,

tanto afronto à inteligência popular,

fizeram o gigante acordar.

E foi tão forte o seu espreguiçar,

que causou espanto em quem o sedava,

pânico, desespero e medo,

que na pior hora chegavam.

Prontos para receber o mundo,

tendo que arcar com inúmeros acordos,

fazer o circo funcionar

para tornar os bolsos mais gordos.

A presidente e a FIFA: vaiadas.

Sinal de que a investida não foi em vão.

Mas em campo o circo prosseguiu.

Jô marcou para a Seleção.

No placar do futebol: vitória brasileira,

mas no da luta social, há muito é do Japão.

Manifestantes ignoraram a comemoração

e fizeram de arquibancada as avenidas.

Parou de ler jornais e de ver televisão.

Protestar era a atividade preferida.

Visível ficou que é sempre balela

a história que a imprensa nos revela.

Quem achava que controla o mundo,

rende agora à voz da galera.

Seus truques a multidão aprendeu

e aplica sem piedade.

Faz o povo agora a imprensa

que registra e espalha só a verdade.

Celulares de anônimos viram câmera de repórteres;

Redes sociais na internet: canal de exibição;

Uma audiência ilimitada,

sem censura nem oneração.

Um basta nas informações maqueadas,

pagas, preparadas e selecionadas.

O povo é que decide o que quer saber.

Chega de lixo e de fachada.

O canal de comunicação escolhido,

acontece em 360 graus.

Não fica ninguém oprimido

e ainda pode, quem quiser, falar mal.

Jô volta a marcar

e dar a vitória para a Seleção.

Se no estádio compraram aplausos,

lá fora não pararam a ação.

Toda revolução tem baderna,

violência e vandalismo

A mídia resolve reagir

desvirtuando atos de heroísmo.

Associando às manifestações

o que cometiam os vândalos,

distorcendo informações,

produzindo escândalos.

Mas o povo aprendeu foi com a mídia

e consegue contra-atacar.

Espalham-se mensagens de líderes

e a ordem ao grupo: "vândalos expulsar".

A mídia,que nunca desiste,

convoca seus aliados,

Pede trégua em seu nome

gente que já foi idolatrada.

Outros em total insandice,

acham-se a falar tolices.

Sofrem rejeição:

A mídia não mais forma opinião.

Veio Brasil contra a Itália

a mídia precisou de atenção.

E para estimular a "gentália",

inventou uma provocação.

Mas durante e depois do jogo,

só se falou em manifestação.

Inspira-se o povo em imagens;

Volta à real grandes frases.

Para espalhar suas mensagens,

jpegs viraram cartazes.

Tem vez, também, sem censura,

charges de humor e ternura.

Que esbanjam criatividade

e ilustram a tamanha bravura.

Os vídeos que são publicados,

na tevê não teriam espaço.

Alertam, convocam, emocionam.

Não fazem o povo de palhaço.

E é tanto poder em jogo,

que preocupado com o poder de fogo

rolam boatos de parlamentar

que ameaça as redes fechar.

Mas o brasileiro, consciente,

não teme nem o "Vamos a Copa Cancelar"

Sabe que o dinheiro que a FIFA pega

ela não encontrará noutro lugar.

Balas de borracha no corpo,

gás lacrimogênio e outros odores.

A polícia reprime não-vândalos

que se defendem com flores.

O movimento ganha sustância

e precisa de uma causa específica

Novamente a rede oferece

a guarita que o povo carece.

para estabelecer sua súplica

e apresentar a quem se interessa.

Contra a corrupção, sim, e não contra a Copa.

Pela Saúde, Punidade e pela Educação.

Pela justiça, liberdade e transparência.

Pela vontade de viver nessa nação.

E fazer de coisa do passado

tudo aquilo que o povo sofria;

E que via tecer à sua frente

enquanto o gigante dormia.

Mas, Brasil, se acharem que é por pouco,

todo o calor dessa imensa chama:

Não é por causa de vinte centavos

e sim porque o povo te ama.

A.A.Vítor

(Autor do livro "Contos de Verão: A casa da fantasia")

*Originalmente publicado no Youtube e no blog As Besteiras que Recebo em julho de 2013, durante as manifestações.