versos in blue

ele me pergunta,

quando as noites são l o n g a s e o calor

dilata o voo dos pássaros,

qual é o meu nome

- não tenho nome, sou um nome.

Passam as guerras, os amores, as feridas e tudo o que fica é o nome. Como agora que toco sua boca e sexo, amanhã ou depois, quando a memória dissolver o ato, restará o nome

- mas e o mar tão absoluto ...

- você diz absoluto como quem diz imutável,

sua boca e sexo, no instante em que me afundo, são absolutos, mas têm vários nomes,

inclusive saudade,

quando o cansaço inaugura a distância

- o que não sou é maior do que sou,

e isso é irremediável

- é verdade, este também é o nome que sou. Por isso digo “não sei”

e te amo com as mãos vazias

-sei seus lábios úmidos e o silêncio que mora neles. Não sempre, às vezes só sei o atrito, e quando te beijo, despedaço as palavras

- mas as palavras nascem nas suas salivas, trêmulas e indissolúveis percorrem minhas veias e não deixam espaço para outra presença

- agora que fala sinto que perdi algo líquido e fugaz, talvez você mesma, crescendo em pequenos sussurros o texto sanguíneo

- porque você me arremessa à escuridão, descubro estrelas fluidas, imprecisas

a dissolução do amanhã tudo é agora e ninguém, além de mim, lerá no azul dos seus olhos os versos do mar

Carla Carbatti
Enviado por Carla Carbatti em 31/03/2014
Código do texto: T4750943
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