versos in blue
ele me pergunta,
quando as noites são l o n g a s e o calor
dilata o voo dos pássaros,
qual é o meu nome
- não tenho nome, sou um nome.
Passam as guerras, os amores, as feridas e tudo o que fica é o nome. Como agora que toco sua boca e sexo, amanhã ou depois, quando a memória dissolver o ato, restará o nome
- mas e o mar tão absoluto ...
- você diz absoluto como quem diz imutável,
sua boca e sexo, no instante em que me afundo, são absolutos, mas têm vários nomes,
inclusive saudade,
quando o cansaço inaugura a distância
- o que não sou é maior do que sou,
e isso é irremediável
- é verdade, este também é o nome que sou. Por isso digo “não sei”
e te amo com as mãos vazias
-sei seus lábios úmidos e o silêncio que mora neles. Não sempre, às vezes só sei o atrito, e quando te beijo, despedaço as palavras
- mas as palavras nascem nas suas salivas, trêmulas e indissolúveis percorrem minhas veias e não deixam espaço para outra presença
- agora que fala sinto que perdi algo líquido e fugaz, talvez você mesma, crescendo em pequenos sussurros o texto sanguíneo
- porque você me arremessa à escuridão, descubro estrelas fluidas, imprecisas
a dissolução do amanhã tudo é agora e ninguém, além de mim, lerá no azul dos seus olhos os versos do mar