DO PSEUDO-ANDROIDE

"Você é doente".

Então, tudo é reciprocidade. Tudo lei de quem mais pode ferir, antes de ser ferido. Nada a ver com compaixão ou altruísmo. Apenas um simples impulso parasitário, com a lâmina alguns milímetros do coração.

Me lembro da noite do fim do mundo. E me pergunto: por que não acabou de verdade? E se arrependimento matasse? Resolveria também o tempo correr para trás, e tornar meus olhos cegos à toda espécie de animal grande e peludo.

Não faz sentido agora, porque o enunciado é esse: Você é doente. E a demência produz todo tido de desconexão. Seja com a verdade ou com o encadeamento lógico de qualquer frase.

E o engulho vem com a tarde. "Perdoa-me quando puder" é uma frase vomitória. Me causa pena, pois não sendo eu um Deus, sou pior como qualquer presador de olhos cândidos. Não está em minhas mãos, conter a destruição causada numa vida dada.

As páginas da doença não têm fim. Desabam abismo abaixo, ao encontro de outros pobres coitados esperando para também serem usados. Isto é o inferno. Uma pintura do demônio que dormia ao meu lado.

Um pobre fraco escondido do mundo, sem talento e sem encanto. Apenas análises decoradas e organizadas, para impressionar aprendizes e seduzir elementos mais fracos.

No fundo o que permanece é a náusea e o asco. Um corpo branco, latrina de todo sémem. Na noite do fim do mundo, um ladrão que conseguiu enganar ao lobo, um verme que se ocultou da lua....

Você é doente. E não somos todos? Mas essas páginas já não são mais de ninguém.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/04/2014
Código do texto: T4777780
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