A Terra já não pode mais esperar...
(Tributo a Manuel Fraga Ribeiro.)
(...) Seria tão bom se ainda estivesses por aqui
a pintar aquelas cidadezinhas ao pé do rio, as montanhas,
o sol, a lua, as jangadas, as mandalas,
a desenhar caixinhas de fósforos e a colori-las a óleo;
Desce já daí, desce já desse céu, querido Manuel,
mas vem logo, vem depressa,
porque a Terra já não pode mais esperar...
Seria tão bom ouvir-te ali a dedilhar violões,
a imitar cítaras, bandolins, harpas e guitarras,
a solar os antigos boleros de Nelson Gonçalves,
as Iracemas e Saudosas Malocas de Adoniran,
ou, aqueles clássicos fados
que nem mesmo às paredes se cantam mais...
Seria tão bom viver a esperança de que amanhã, ou,
ainda hoje,
a qualquer momento,
e, com qualquer tempo,
vais telefonar, tocar a campainha,
materializar-te
para que possamos revelar-te toda a nossa gratidão,
falar-te desse amor,
que, de tão infindo,
nem mesmo Camilo ousaria definir...
Dizem por aí que o céu pode esperar ...
(...) Oxalá, oxalá...
Seria tão bom se soubesses
que sem o ar da tua graça,
a vida aqui na Terra,
é muito menos colorida,
muito menos alegre, muito menos feliz...
Faltam-lhe as curvas e as retas do obediente pirógrafo,
a firmeza destra da tua mão, a sabedoria do papel branco,
a silenciosa métrica dos pincéis, a tua obra, enfim...
Que bom ver-te emoldurado em nossa lembrança,
a nos guiar com os teus telhados,
meias-luas, luas cheias, crescentes e minguantes luas,
estrelas diurnas e noturnas,
com as tuas casinhas, cordilheiras, marinas e igrejas...
Que bom saber-te no silêncio das paredes,
a decorar a casa, a enfeitar a nossa vida com a tua invisível presença.
São tantas imagens para guardar...
Tantas paisagens...
Tanto mar... tanto mar...
É tanta poesia... que as paredes até parecem querer falar...
(...) Seria tão bom se pudéssemos ouvi-las...
Texto de Zizifraga
Maio de 2014.