SEM REMO E SEM RUMO.

O velho navegante solitário seguia pelas águas da vida.

Em cada porto uma aventura, extravagâncias de um espírito egocêntrico.

Na busca de historias embaraçava-se, na construção do enredo particular.

A ermo e à deriva movia-se o navegador.

Deixando-se, em considerações sem fim, ao sabor dos dias.

Naufragando algumas vezes nos devaneios dos sonhos e desejos incontidos.

Num ímpar egoísmo por medo negava-se ao compartilhar.

Milhas e milhas percorreu sem ter chegado a lugar algum.

Das muitas gentes que conheceu a ninguém o amor correspondeu.

O errante navegador numa bela noite de luar,

Sensível, mostrando capacidade para navegar em calmarias.

Na inércia mortal deixa-se abater pelo anjo da morte sem lutar.

Em paragem longínqua um coração triste sente todo àquele pesar.

Derramando-se em versos roga aos céus que os anjos acompanhem

O desenlace daquele vagante que sem se aperceber, o cativou.

E embora deixado para trás seguiu amando o velho navegador.

Desculpando-lhe nobremente a ingratidão.

Uma brisa suave fez elevar-se ainda mais o pesaroso amante.

Que sussurrante deixou-se livre a inspiração.

- Somos originários de matéria prima, sublime!

Nômades em busca do próprio eu.

Observadores tenazes do outro,

Por sermos incapazes de nos compreender...

Medrosos e por vezes obstinados no cometimento de grandes erros.

Contudo!

Somos criaturas em potencial passivos ao progresso e merecedores de perdão.

Como que a enxergar e a ouvir algo muito familiar o velho navegador errante imagina-se em tosca canoa, feliz a navegar sem remo e sem rumo.

Deliciando-se simplesmente com o vento que brando lhe alivia a excitação.

E, igualmente a uma criança com um olhar admirado segue absorto o planar de imensa gaivota, no alto, porém, muito próxima, a direcionar-lhe a pequena embarcação.

Um perfume penetra-lhe os sentidos, ébrio, todavia, percebe a aproximação de um anjo que lhe toma nos braços. Tanto amor lhe faz vibrar a alma e uma lágrima sentida é derramada pelo navegante que, também, não se permitia chorar.

Reconhecido tenta falar.

Carinhosamente o anjo num gesto simples lhe faz silenciar e seguem.

Longe alguém beija e joga ao mar uma bela rosa branca, simbolizado o amor, por aquele ser excêntrico e arredio, e em sinal de despedida.