Ô vida difícil

Nosso povo é um bom contador de histórias e de "causos". Faz parte da nossa cultura e onde houver uma oportunidade, como nas filas, que são tantas e por questões das mais diversas, alguma resenha vai acontecer, seja sobre política, religião, futebol, segurança, etc...e quem haverá de saber o porquê. Porque sim. Porque foi assim.

Mas vamos à questão:

havia um ancião numa dessas tantas filas, normalmente enormes e demoradas e observado pelo meu amigo Celso, um grande observador, característica do escritor, assumido ou não, iniciou o seguinte relato, sem ser interrompido e até sem saber se era ouvido ou não. Mas insistia:

"Na minha modernidade era mais fácil e não existia essa confusão:

quem é doutor, quem é bandido e quem é ladrão.

Político era chamado de doutor e policial era chamado de senhor

e hoje a coisa mudou.

Da polícia tínhamos um enorme respeito e hoje, somente medo.

Do político tínhamos admiração e hoje, somente indignação.

Havia esperança e hoje só vemos lambança.

Honestidade passa distante do plenário, onde não há votação sem conluio.

A lei existe, mas não resiste.

E o Joaquim?

Até ele vai desistir. Não adianta resistir.

Estamos abandonados?

Haja embargo, corrupção e peculato.

Conselho de ética. Hein, o quê?

Alguém ainda espera pra ver?

E o menino com o papel de sorvete na mão pergunta:

pai, jogo aonde?

-Joga aí mesmo no chão. Não é para isso que pagamos impostos?

Uma simples casinha no alto da serra, com um cachorro magro, paga IPTU.

O leão morde, a Receita recolhe e incolhe, o político agradece e o povo só carece. Padece.

E vem, vamo simbora que esperá não é sabê. E ainda vem mais".

Nosso povo é bom de resenha, mas é que nem lenha e quando se inflama é para beneficiar alguém no cozimento ou para prejudicar alguém, com incêndios que podem arder até a sua própria casa. Mas deixemos a batata na brasa, pois um dia isso poderá mudar. Será?

O ferri-boot chegou, o povo embarcou, o cidadão se calou, mas isso até um novo encontro, numa outra fila, possivelmente não no mesmo local e talvez não com o mesmo ator, mas o espetáculo vai continuar.

Antonio Celso dos Santos
Enviado por rodriguescapixaba em 08/05/2014
Reeditado em 09/05/2014
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