Venae Cavae

Hermético? Hirto? É o que pensas? Insípida? Fria? É o que achas que penso? Eu vejo complexidade e não apenas adjetivas, fáceis conclusões; vejo perplexidade em ti, embora eu ainda procure complementos, predicativos subentendidos ou mesmo superlativos. Sei, são esperanças insustentáveis, leves como o ser, no entanto eu sempre quis saber para onde a areia movediça leva...

Em vão tento voltar ao crime não solucionado, do qual somos os secretos coautores. Lembro, através de vidro enevoado e da água, do inquérito arquivado, e vejo as lesões perpetradas sobre a vítima. Foram lesões cortocontundentes, perfurocortantes, perfurocontundentes... Enfim, sangue para todo o lado. Alguns até poderiam falar em requintes de crueldade, outros, em pura elegância. Tudo é relativizado. Aqui, parado, remoendo reminiscências, as horas passam depressa, os dias se consomem como efervescentes.

Rebobinamos a fita; cansamos os sentidos. Foi tudo muito rápido, passional, seja lá o que quer que eu esteja insinuando. De repente nos tornamos invisíveis, com permissão para a visibilidade por pequenos átimos-recaídas. Passaste a vestir a tua burca, e eu, eu passei a usar o meu escafandro. Enterramos as borboletas. O fim da linha. Era o inexorável fim chamando por ti, perdida no deserto, e eu, no fundo do oceano; o fim tentava nos reencontrar para dar o veredicto final: morreu aquilo que por anos nós sustentamos...