Histórias do meu avô
“Só espero que nenhum falte ao sacro dever
de enunciar meu nome.
Nisto consistirá minha imortalidade.”
(Darcy Ribeiro)
Eis o homem que se tornou uma lenda!
No rosto um pergaminho de rugas herméticas...
Um veterano, que, depois do último cigarro passou a esperar por um milagre!
Milagre da vida, para que tudo valha a pena e viver faça algum sentido!
Bem, é sobre o tempo que irei discorrer...
Não vou falar sobre conselhos inúteis
Nem sobre uma estranha vontade de me aproximar de ti
Tudo o que viveu até aqui, ele fez questão de aumentar...
Em suas mirabolantes histórias de guerras e revoluções!
Todas as tentativas do inimigo, você as neutralizou
Ouço o relógio na parede e sinto o tempo se arrastando
Ouvindo tua rouca voz pelo ambiente vazio, ecoando...
... Na mente, sem mobílias, os seus ideais eram emocionantes
Utopias e engajamento; quando jovem tinha a cabeça nas nuvens!
Você deveria ver como se comporta a juventude nos dias atuais...
Com os pés no asfalto e a cabeça condicionada aos jogos virtuais!
De guerra, partidas de futebol em 3D e combates marciais!
Ai está você, para me ensinar com o dedo em riste no meu rosto
Sentindo-se cansado pela missão cumprida, ainda apontando-me o dedo!
O final é o oposto d’ uma dor amarga de uma antiga ferida adquirida no Pantanal.
Que se tornou medalha e faz questão de conferi-la
E dizer-me com orgulho como conquistou a cicatriz
Foi num front, campo de batalha no sul da França...
Em meio a aviões e sabres, lá foi vencedor e nunca perdeu a esperança!
Sabia que voltaria para sua casa e uma família constituiria
E permaneceria vivo, vivo como suas estórias; durante tanto tempo...
Sobre a vovó, suspiraria: “Ah, que falta ela me faz...”
No futuro, viveria entre os netos, sobrinhos e afilhados e contar-lhes-ia...
Tudo da vida, sua vida como um livro, num novo conto a cada dia!
*A Darcy Ribeiro (26/10/1922 — 17/02/1997).
Ele foi escritor, professor, político e antropólogo. Viveu entre os índios do Brasil Central e da Amazônia entre 1946 a 1956.
Entre tanto livros escreveu “O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil” lançado em 1995.
Foi eleito para a Academia brasileira de letras em 1992.