Ventos de Ventilador

Na angustia das horas mortas subsiste em meio a dias que chegam e partem sem nenhum aviso, sem nenhuma espera. Imerso em quartos sem janelas, de paredes enfeitadas por relógios atrasados, enxerga somente a luz em lâmpadas de brilho cada vez mais fraco.

No teto, um céu opaco e imutável é paisagem de longas horas. Nos ponteiros, entre a passagem de um segundo para outro, olhos se fixam e naquele exato momento de indefinição tem a estranha impressão que o tempo ali se finda, que a vida estagna e se encerra.

No entanto, aos poucos, o compasso se acerta. E as vezes num sopro de brisa nova se revigora, esquece angustias e toda dor. E fecha os olhos para não ver que não são ares do agora, mas, sim, ventos de ventilador.

Ivo Jeremias
Enviado por Ivo Jeremias em 21/05/2014
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