O CARA DO ESPELHO

Por: Anderson Du Valle

Hoje me surpreendi com aquele senhor olhando pra mim;

Parecia muito com alguém que sempre conheci;

Com bem menos viço, é verdade.

Cada ruga daquele senhor me contava uma história, que eu parecia conhecer.

Seria ele um antepassado sussurrando boas proposições?

Ou alguém que se mostrava assim por não tê-las aceitado, quando pode escolher?

Ora, mas o que estou dizendo... eu o conheço, assim como a mim mesmo.

Ele apenas marcou um encontro há muito tempo e eu compareci

Ele já estava lá, parecia à vontade naquela moldura.

Estatelado, imita-me os movimentos, sabe mais ainda de mim

Sua aparência embaçada pelo vapor, nada tem haver com o tempo

A minha também é embaçada, por isso ele, já experiente, apenas observa.

Caramba! Ele sabia que eu viria, por que fui tão cético quanto a isso?

Não cuidei dos joelhos, da coluna... não achei que um dia o encontraria.

Já não tem tantos cabelos, nem possui inocência no olhar

Marcas de expressão profundas refletem a imagem e semelhança

De alguém que hoje sabe do sadismo do tempo.

De minutos antes do poema.

De cinquenta e três anos passados.