A melancolia é bela

Triste não sou, mas julgo haver beleza na melancolia.

Divinas obras surgiram em momentos de extrema dor

Vindas do âmago do sofrimento e amargor, nunca da alegria

Arte escrita não rima com comédia ou riso, são outras tintas,

Outras matizes, no meu entender, são necessárias ao escrever

É com o púrpura, marrom e negro que melhor se pinta

Dramas, afastamentos e dúvidas, temores e rufar de tambores

A lágrima não é rosa nem o sangue o é, são dramáticos, escondem mistérios.

Não me venham falar de flores, pois a melancolia nasce da repartição de amores.

A melancolia ensina, alucina, é aprendizagem e lamento puro

Tenho pena de quem não a experimentou, tão naïve tal pessoa...

Vive sem intensidade, sem tango, sem o doce amargor do tamarindo maduro

Arrisco dizer: eu não daria valor ao amor não fosse ele transitar pela melancolia

À eterna felicidade histriônica decerto eu não me acostumaria

E meus textos não brotariam em buquês verdes com rosas-chá, eles teriam muito mais a acrescentar.

Eu usaria tinta de canela, violeta, terra nova e breu, e este selo seria eternamente meu.

Minha escrita melancólica é uma tela insólita onde o meu eu se divide, se emociona e ri de quem não sabe sorrir no escuro.