Um Eterno Rascunho #1

Acordei no meio da madrugada e me deparei com a janela aberta, as estrelas me observavam de longe. Tive um calafrio, uma insegurança tomando conta do quarto, levantei da cama com cautela, apenas um pé se uniu ao chão. Me aproximei daquela abertura retangular no meio da parede e vi lá fora um mundo cercado pela escuridão. O grito do silêncio unido aos intrigantes sons de uma madrugada, era assustador e fascinante. Me senti tomado pelo desejo de estar ali, no meio daquela fumaça desconhecida e tão inofensiva. Voltei para a cama, pulando numa única perna enquanto os ossos pareciam dançar na outra. Sentei-me a beirada daquele rio de lençóis macios e meus pés entraram em contato com aquela imensidão de gelo. Tão simples que me doeu. Eu não buscava por simplicidade.

Como eu quero me aventurar. Tocar com a ponta dos dedos e sentir o peso do meu corpo se fazendo fogo e derretendo todo aquele gelo que se faz suor nas minhas costas. Acendi a luz do quarto, parte da vida foi devolvida as paredes que me rodeavam. Olhei para cada uma delas e vi o quanto a segurança está atrelada a uma prisão. Estão tentando manter alguém longe de mim ou estão me mantendo longe de alguém? Me agarrei as minhas dúvidas assim como as minhas pernas e senti-me impotente.

Meus ossos ainda possuem fraqueza, minha pele ainda possui calor e meu corpo ainda tem suas necessidades. Minha mente? Está viajando e não voltará tão cedo. Ela me pediu para ir com ela, mas eu me recusei, Sonhos não me parece ser um bom lugar no inverno. Fiquei aqui, com a lucidez que me apavora, com a clareza que me cega e com a cabeça cheia de coisas para arrumar...