QUEM É ESSE HOMEM?

Quem é esse homem que vai pelas ruas com os cabelos ao vento e a barba por fazer e que encontra no sorriso da menina um pouco da beleza que brilha?

Quem é esse homem que veste roupas que estão fora de moda há muito tempo, mas que é feliz porque cheira a cigarro e tem um carro? Esse que encontra os amigos com espanto e corre para o abraço.

Quem é esse homem? Esse que foi o último a subir o monte mais alto do mundo e que se admirou, porque tudo ficava bonito tingido de sol de um jeito que nunca havia visto. E que ficou de cócoras sobre uma grande pedra com o vento nas costas a lhe contar coisas que nunca haviam lhe contado antes.

Esse que é fruto de gerações cruzadas nos terreiros das grandes fazendas, nas matas quentes entre os animais, nas embarcações vindas de longe dos exploradores, nas fugas do genocídio e nos acampamentos dos recomeços.

Esse homem que questiona tudo e todos e não se conforma com o que lhe ensinam. Que escolhe o próprio destino sentado em frente à televisão assistindo a programas de humor escrachado enquanto come um salgado anunciado como a melhor coisa que alguém já provou.

Esse homem que explorou os lugares desertos reservados aos lobos. Que foi ao mais profundo do mar que só os seres sem olhos conhecem e se jogou de cima dos penhascos entre as rochas que observavam da altura dos seus séculos.

Quem é esse homem que foi lá fora e viu que a terra é redonda e que não tinha a cor de terra como esperava ter e que seguiu as estrelas em seu curso e que viu o que os olhos não alcançavam. Que voltou maravilhado e querendo mais. E que se emociona ainda com o nascimento de uma criança que vai lhe chamar de pai.

Que não esquece o primeiro amor que teve na juventude e sonha como um poeta diante de tantas belezas e tantos horrores, caído na guerra lançado na fome, esquecido na esquina ou falando das lutas.

Ele ainda não sabe quem é

E nem porque está aqui

Mas isso já não o surpreende mais.